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2014: pedreira ou geleia geral? – Parte II

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12/02/2014 13:01

Ainda é tempo de justificar a utilização da expressão geleia geral para se contrapor (ou se apor?) à pedreira nacional que, tudo indica,  aguarda a todos antes, durante e depois de Momo, da Copa e da peleja eleitoral. Cunhada pelo poeta e filósofo Décio Pignatari, a expressão geleia geral foi usada pelo intelectual e jornalista piauiense Torquato Neto, nos anos 70, - numa coluna do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro - para descrever o “Prá frente Brasil”, da ideologia militar, e suas contradições, a repressão política e cultural, e a mesmice da exclusão social. As reflexões de Torquato viraram um poema adotado como lema pela Tropicália, um movimento que marcou a resistência ao autoritarismo e a luta pelo resgate da Democracia no Brasil. “É bumba-iê-iê-boi, Ano que vem, mês que foi, É bumba-iê-iê-iê, É a mesma dança, meu boi”. O Brasil de hoje, a despeito de avanços, de liberdade da imprensa e algumas conquistas, sofisticou o discurso publicitário para esconder debaixo do tapete, seus conflitos e mazelas. É o país para todos da “Copa das Copas” (um bordão eleitoral criado pelo publicitário Nizan Guanaes), que se cala ao grito das ruas e reduz a crueza da violência generalizada a uma investigação policial.
 
A indignação e a insatisfação

Nesta segunda-feira, a morte estúpida do repórter cinematográfico Santiago Andrade - atingido por um rojão disparado por um “manifestante” no Rio – sacudiu a indignação nacional. Profissional destacado, que deixa a companheira de 30 anos e 4 filhos – a morte trágica de Santiago impõe múltiplas reflexões que o fato exige. Curiosamente o nome e a vinculação partidária do acusado estão mantidos, até aqui, em silêncio. Provavelmente, entretanto, vai virar apenas mais um inquérito com a prisão do responsável, e servirá para esvaziar o grito de insatisfação da maioria, protelar a discussão educacional, econômica, social, a gestão da saúde, da infraestrutura, da cangalha fiscal, da ausência de uma politica industrial que atrofia o setor produtivo e por aí (não) vai... Os bandidos infiltrados ou criminosos desavisados são minoria comparada à multidão dos indignados com o caos instalado no tecido social, o esvaziamento e a deterioração das instituições, da mistura perversa entre gestão e comunicação publicitária.
 
O inferno urbano

De Manaus a Porto Alegre, passando pelas cercanias urbanas do Palácio do Planalto, é visível e estarrecedor o grau de insegurança social, o descontrole e a falência de grande parte dos equipamentos públicos, dos serviços de permissionárias de água, luz, telefonia, tv a cabo, internet, diante do olhar passivo da fiscalização governamental. O jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, traduz essa percepção geral: “A vida nas grandes cidades está um inferno. Há risco de apagões. Em São Paulo, é real a possibilidade de racionamento de água. O transporte público é um purgatório para milhões de brasileiros. Os serviços de saúde continuam uma insanidade. Alguém pode ter certeza de que as coisas vão melhorar nos próximos meses? Só os governos (municipais, estaduais e federal), por dever de ofício é que têm um discurso otimista. Ninguém mais. Alguém garante que não vão mais ocorrer manifestações de rua, inclusive com violência? Ninguém tem esse poder de previsão”. A percepção mais comum é de que as coisas tendem a piorar, sobretudo, nos meses que antecedem as eleições. E nada sugere que algo de concreto está sendo feito para prevenir.
 
Sob o signo da insegurança

Do ponto de vista das empresas instaladas em Manaus, é particularmente inseguro, nebuloso e desconcertante identificar vestígios de critérios adicionais, além dos legítimos direitos trabalhistas, comprometendo a rotina e a dinâmica da Suframa, uma autarquia já bombardeada pela escassez de pessoal e de recursos. Os prejuízos no cronograma produtivo se acumulam sem perspectiva de equação. Além da insegurança jurídica, que envolve a prorrogação do modelo ZFM - e sua definição pelo viés político-eleitoral - da liberação de licenças de PPBs, para as empresas trabalharem com liberdade e conformidade legal, desassossega a permanência e ampliação dos apagões energéticos, da burocracia como fim em si mesma, do vai-e-vem do enfrentamento da buraqueira das ruas do polo industrial de Manaus e manutenção dos entraves que boicotam a modernização portuária da economia local e nacional, vis-à-vis, o investimento de verbas públicas para estimular a estratégia ideológica, mercadológica e intercontinental do porto e a Zona Franca de Mariel. “Não é porque você é paranoico que as pessoas param de lhe perseguir”, diziam os psiquiatras da Guerra Fria, nos anos 60. De quebra, os órgãos de controle ambiental e patrimonial viraram, em determinados contextos, cartórios de negociação obscura.
 
De olho no CBA

Além de recursos do BNDES, dos quais apenas 17% são investidos em todos os 7 estados da Amazônia, aportados – algo em torno de US$ 1 bilhão - numa área alfandegada de Mariel, 50 vezes maior que a área da ZFM, a economia cubana aguarda a confirmação do compromisso brasileiro de um projeto de desenvolvimento nos moldes da Zona Franca de Manaus, para o qual já tem um exercito de farmacêuticos e profissionais afins. É importante assinalar que a Novamed, que teve licença do GT-PPB para operar na ZFM, apenas em agosto último, desembarcou em Manaus, com projetos de envergadura, em 2009, monitorando a definição de modelo de gestão do Centro de Biotecnologia da Amazônia, CBA. A Novamed integra o grupo EMS, a maior multinacional farmacêutica brasileira que, enquanto esperava a definição do PPB, em 2012, assinou um acordo de 100 milhões de dólares com a empresa cubana Heber Biotec para constituição de uma empresa mista de desenvolvimento de remédios. Cuba é referência em inovação em biotecnologia. Os medicamentos, criados graças à parceria, serão fabricados no Brasil, chegarão ao mercado num prazo de dois a cinco anos e poderão ser distribuídos e comercializados pela EMS nos mais de 20 países onde a companhia atua. A empresa encontra dificuldades na seleção de mão-de-obra em Manaus.
 
Boicote esperado

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a União Europeia quer o fim dos benefícios que o governo federal concede para zonas industriais especiais criadas no Norte do Brasil e que, segundo os acordos firmados em Bruxelas, violam as regras internacionais do comércio. A ação é também um recado a todos os países emergentes que, sob a justificativa de desenvolver áreas mais pobres, estariam supostamente ignorando as leis comerciais e criando zonas exportadoras que começam a afetar os interesses de grandes multinacionais europeias. A partir de quinta-feira (13), Brasil e Europa iniciam consultas em Genebra, depois que os europeus entraram com uma queixa na Organização Mundial do Comércio (OMC) para julgar a política industrial brasileira. (Qual?) Bruxelas não ataca apenas a redução de IPI para carros ou os benefícios fiscais em Manaus, mas também pede o fim das vantagens oferecidas em pelo menos oito cidades da região Norte. Mais um bombardeio - de grosso calibre – contra a ZFM
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 12.02.2014

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