05/06/2020 20:02
Por Alfredo Lopes
Em seu artigo semanal sobre economia, O combate ao desemprego, o ex-ministro Paulo Haddad, da Fazenda e do Planejamento, no governo Itamar Franco, aponta a necessidade do governo aumentar a demanda, o único jeito, segundo ele, de não agravar drasticamente o desemprego estrutural. E destaca que pouco adiantaria abrir mãos de tantos impostos para a sobrevivência da economia, com a manutenção dos postos de trabalho. Essa medida esbarraria num corte drástico na circulação da moeda e ampliaria a temeridade de produzir sem demanda.
Paramos na Reforma da Previdência
Antes da crise, todos sentiram na pele, o Brasil já estava em processo de encolhimento de sua economia. Nossa moeda já estava exibindo fragilidades crescentes em relação ao dólar e nosso desempenho econômico caíra para último lugar entre os BRICS e perda de fôlego entre os demais emergentes. O entusiasmo do mercado com a aprovação da Reforma da Previdência foi, por sua vez, esfriando a expectativa dos investidores, pois a ela não se seguiram as demais reformas, especialmente a fiscal e a administrativa. Ou seja, entramos na pandemia sem força nem pernas de resistência.
Janelas de oportunidades
Como é de praxe, dada sua fragilidade crônica no cenário global de disputas – o país ainda é uma economia fechada e sem condições seguras de se abrir com seguidas recessões – a desvalorização de nossa moeda chegou a um nível de depreciação, provavelmente além da dose, complicando mais ainda as deficiências da indústria decorrentes da dependência da cadeia asiática de suprimentos. A pandemia apenas agravou o cenário, mas, a duras penas, fomos aprovados na ZFM com habilidades industriais inimagináveis. Por isso, a crise pode, abrir novamente, janela de oportunidades.
Pouco fôlego e muito atrito
Em 2008 o governo tomou medidas arrojadas de proteção da indústria e foi ajudado pelo fato da crise ter-se alastrado a partir da questão imobiliária americana, ocasionando a desvalorização do dólar, mas sobretudo alcançando a questão do crédito e dinâmica das economias desenvolvidas. Esta crise de agora é global e vai atingir principalmente as economias com pouco fôlego e muito atrito por dificuldades no âmbito político institucional.
Medidas mais arrojadas se impõem
Nos primeiros debates do Comitê Indústria ZFM Covid-19, formado por CIEAM, FIEAM, ELETROS e ABRACICLO, já havia a consciência e o alerta para medidas mais arrojadas do governo. Dizíamos, com amparo de nossa assessoria econômica e previsões da FGV, “...é preciso fazer mais. É preciso mover todos os recursos financeiros disponíveis para evitarmos que a recessão prevista para 2020 contamine os anos seguintes. O que seria uma crise aguda de 03 a 06 meses pode ser uma grave depressão econômica”. Por isso, impõe-se muita calma e muita luta nesta hora, pois a economia brasileira, estima-se, pode empobrecer 4,4% este ano, protelando o crescimento econômico para 2022, quando o país, se conseguir driblar a politização destrutiva, poderá experimentar crescimento positivo
Qual é o maior desafio?
Todos os esforços têm que se voltar ao combate à pandemia e ao desemprego. É meritória e merecedora de aplausos a iniciativa das entidades da indústria em mobilizar as empresas do Polo Industrial de Manaus, tanto para produção e doação de equipamentos de proteção individual EPIs, entre outros suportes, para as equipes de combate direto à Covid-19. Mais louvável é acionar as empresas do Polo Industrial com a distribuição até aqui de 100 toneladas de alimentos para população em elevada vulnerabilidade social, incluindo refugiados, indígenas e famílias desempregadas. No entanto, apesar desta louvável ação solidária, isso atenua mas não resgata a dignidade do cidadão no prolongamento dessa desordem econômica. Daí a importância de dar também muita atenção à economia e assegurar seu maior legado para a sociedade: a geração de empregos.
O alinhamento e o respeito à Lei
E se o desafio maior é este, vamos atinar para o que diz a Escola de Governo da Universidade de Harvard, que tematiza o desenvolvimento socioeconômico dos países há 7 décadas. “Os processos de crescimento acelerado e sustentado, combinaram elementos de práticas ortodoxas e não ortodoxas, associados a um pequeno conjunto de reformas”. E arrematam que políticas econômicas - que são concebidas e implementadas por decisões enrijecidas por compromissos ideológicos primários - são menos dóceis à realidade histórica, menos pragmáticas e podem nos conduzir a grandes desastres sociais e econômicos. Daí a necessidade do alinhamento, do respeito à Lei e de comunhão de todas as forças a serviço da brasilidade, para conquistar um crescimento integral e integrado deste Brasil açoitado pela divisão estéril e esterilizante.
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Publicado em 04.06.2020 no Jornal do Commercio
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br