21/07/2023 11:07
É de extrema importância que o universo acadêmico esteja totalmente alinhado com os avanços tecnológicos. Na equação entre economia e academia, indústria 4.0 precisa profissionais qualificados para poder empinar. Este é o posicionamento de Sérgio Capela, um gestor por vocação e mérito, com três décadas de batente na ZFM. Ele é do tipo que não foge dos desafios da indústria e da sociedade amazonense e amazônida. Durante a pandemia, circulava pelas instituições sociais de Manaus, distribuindo cestas de alimentos para os segmentos mais vulneráveis alcançados pela COVID-19. Conselheiro do CIEAM, sua liderança se destaca pela defesa da certificação das empresas e sua inserção no mercado internacional.
Confira o bate-papo.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up – O polo eletroeletrônico da Zona Franca de Manaus, aquele que mais permitiu agregação de valor ao perfil produtivo no polo industrial de Manaus, já experimenta os avanços da indústria 4.0. Na sua opinião, qual o papel das instituições tradicionais de ensino e pesquisa para acelerar este decisivo processo?
Sérgio Capela: É de extrema importância que o universo acadêmico esteja totalmente alinhado com os avanços tecnológicos. Na equação entre economia e academia, indústria 4.0 precisa profissionais qualificados para poder empinar. A velocidade em que as inovações ocorrem é cada vez mais rápida e intensa. E cada vez mais as inovações, no segmento industrial, ocorrem com o objetivo de aperfeiçoar as operações de manufatura visando maior produtividade e qualidade. São operações e etapas às quais o ser-humano não consegue mais atender.
Os produtos com alta tecnologia – e o diferencial em design dos produtos – requerem operações de processamento que exigem critérios de produção e montagem com especificações extremas. Daí a importância fundamental da interatividade robótica colaborativa e o aperfeiçoamento do maquinário através dos avanços da indústria 4.0. As instituições tradicionais de ensino e pesquisa estão convidadas para celebrarmos juntos a transformação.
FUp – A indústria da ZFM, entre suas diversas contribuições ao poder público, mantém integralmente a Universidade do Estado do Amazonas. Este fato não deveria fortalecer esse ambiente de colaboração mútua?
Capela – Faz bem pouco tempo que a indústria tem assento em colegiados da UEA. E isso é uma pauta já debatida e, acredito, reforçada. E está será uma interlocução de ganha-ganha, com certeza. A indústria no patamar 4.0 vai ampliar seu índice de colaboração. Ganha a indústria, a academia e a sociedade. Eis porque as instituições tradicionais de ensino e pesquisa, juntamente com a UEA, devem estar aptas e atualizadas a fomentar todo este processo através da formação de profissionais que estejam habilitados a dar suporte ao movimento 4.0.
É preocupante essa carência imensa de profissionais que possam atuar nas organizações que estão mais embarcadas num processo de inovação 4.0. E isso pode ser sanado através de formação de parcerias sólidas entre as empresas e as instituições de ensino na formação de mão de obra qualificada. Assim procedendo, asseguramos as condições de continuar evoluindo no processo de inovação e aperfeiçoamento da indústria 4.0 nas organizações. De quebra, vamos entrar pela porta da frente da economia mundial acompanhado das certificações, incluindo agenda ESG e outras relacionadas à indústria 4.0.
FUp – A produção de semicondutores é um desafio que faz parte do cotidiano da empresa que você dirige, a Visteon Amazonas. Já podemos sonhar em atender a demanda nacional deste suprimento? Quais os passos necessários para acessar este patamar de conquistas?
Capela – A tecnologia na produção dos semicondutores é algo extremamente especifico e que requer um alto investimento na construção de toda uma estrutura de produção para atender tais necessidades. As especificidades e os critérios na fabricação de semicondutores requerem milhões de dólares de investimento, além dos royalties a serem pagos para os detentores da tecnologia destes componentes. A não ser que haja um apoio estratégico e visionário do governo federal ao incentivo da instalação deste tipo de operação no País, isso não irá ocorrer por simples proatividade daqueles que hoje produzem ou possuem a tecnologia para tal. Trata-se, portanto, de uma decisão mais política do que tecnológica, pois a indústria está travada pela dependência desse suprimento.
FUp – Sua empresa se integrou de corpo e alma no monumento voluntário da ASI, Ação Social da Indústria da ZFM para atender o flagelo social da pandemia, de 2020-22. Com repasses robustos para o setor público, a indústria descobre que isso não tem chegado ao seu destino. Que sugestões você daria para mudar este quadro?
Capela – Um acompanhamento mais intenso pelos órgãos federais de fiscalização através de auditorias e comprovações da correta empregabilidade dos recursos assim destinados. O segmento privado não tem autoridade, nem autonomia para tal. Entretanto, e com certeza, sempre que for preciso e necessário continuaremos fazendo a nossa parte pensando sempre no bem estar da comunidade, prezando pela saúde e bem estar da população. Sabemos que o poder público deve e pode fazer muito mais. Porém, ao invés de ficarmos somente na reclamação e passividade, continuaremos nossa parte através das ações do nosso movimento de ação social pelo Centro da Industria do Estado do Amazonas.
FUp – Bioeconomia é uma das modulações econômicas mais recomendadas para o desenvolvimento da Amazônia no debate da reforma tributária. Como liderança empresarial, o que você recomenda para diversificar e interiorizar a economia a partir da indústria?
Capela – Entendo que o fortalecimento de uma política de incentivos e inovações em bioeconomia será o melhor caminho para o desenvolvimento deste segmento em nosso país. Falando sobre o segmento em que atuo, já existem em países da Europa uma variedade de veículos sendo manufaturados com desenvolvimento e inovações em ambiente de bioeconomia, mas tudo isso através de um incentivo relevante e uma constante participação dos governos no fomento e na contrapartida fiscal para o desenvolvimento de utilização de produtos cada vez mais sustentáveis e ecológicos. Este é um caminho sem volta.