27/05/2025 16:24
Por Augusto César Barreto Rocha
Universidades não são empresas. Empresários dificilmente entendem de pesquisa, tal qual universitários dificilmente entendem de empreendimentos comerciais. Governos dificilmente acolhem as aspirações de universidades e empresários. Mesmo assim, com esta pouca compreensão mútua, é muito importante que consigamos superar os abismos entre as instituições de pesquisa para que o ambiente empresarial seja mais inovador.
Sem uma união estreita entre empresas, universidades e governo será difícil deixarmos a condição de fornecedores de commodities, como um “fazendão” do mundo.
A agregação de valor com a ciência e a tecnologia é uma necessidade. Todavia, para a construção do progresso é fundamental compreender e acolher os problemas do presente para superarmos os desafios.
Há uma avaliação ignorante entre os elos de nossa sociedade. O pesquisador não entende como pode ser difícil pagar uma folha de pagamento, tal qual o empresário não entende que o professor universitário faz muitas coisas além de pesquisar. Os dois acreditam que o trabalho do governo é simples, mas como é difícil fazer apenas o que a lei permite.
O entendimento do outro é um passo que precisa ser dado, pois há muito mais desinformação do que acolhimento e a inovação é uma soma de esforços e não um embate.
Como não temos um grande volume de empresas nacionais de alta tecnologia, ainda não há uma cultura empresarial forte para a pesquisa, desenvolvimento e a inovação. Isso pode ser construído, mas precisaremos de um esforço para a compreensão mútua, com muito diálogo.
A criação de um espaço cooperado é um passo relevante que precisa ser tomado. Os Institutos de Pesquisa que podem fazer este papel têm tido pouco orçamento para este trabalho de construção de pontes. Faltam pesquisadores que tenham a visão empresarial e faltam empresários que tenham a visão científica. Os ambientes onde há volume de recursos para Pesquisa & Desenvolvimento são tomados por multinacionais que (quase) certamente não possuem interesse em desenvolver países estrangeiros. Seus enfoques são voltados para o desenvolvimento de seus próprios países e as cooperações locais serão as mínimas possíveis para cumprir as obrigações. Aliás, também fazemos isso, quando empresas brasileiras se posicionam no exterior.
É uma falácia considerar que as universidades ou empresas nacionais não inovam. A questão é que convém ao interesse estrangeiro que sigamos a acreditar nisso.
Convém que sigamos trocando soja, gado ou frango por acesso aos ambientes da alta tecnologia. Podemos seguir a chutar as nossas próprias escadas ou podemos realizar as nossas fortalezas. As Missões de Desenvolvimento nacionais só avançarão quando tivermos a capacidade de encarar tantas falácias que temos propagado ao longo dos últimos anos, tipicamente atacando. Encontrar as bases do diálogo é o caminho para a transformação e a inovação. Duvidar de si ao encontrar os diferentes pode ser um bom começo.
(*) É professor na UFAM
Artigo publicado no Jornal do Commercio em 27/05/2025