18/07/2024 13:01

“Todo mundo cobra o asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO), muito bem, é justo e garante o ir e vir dos amazonenses, mas não é ela que traz as soluções logísticas para nós. Quem traz essas soluções é o rio Madeira e não vejo a sociedade cobrando o ordenamento deste rio“.

A frase é do presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani), Dodó Carvalho, proferida durante o webinar Diálogos Amazônicos: Logística e Rios na Amazônia, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na noite desta segunda-feira (15).

Para Dodó Carvalho, a navegação na Amazônia não cresce porque a sociedade local não a defende e que se houver uma compreensão do potencial deste setor, muita coisa mudaria na região.

“A navegação está vivendo seu grande momento e não podemos desperdiçar isso. Queremos um rio eficiente, ordenado e seguro para oferecermos transporte com custo justo e ambientalmente correto“, destacou o empresário, elogiando a iniciativa de conceder a hidrovia do rio Madeira à iniciativa privada.

Ainda no webinar, Dodó Carvalho lembrou que parte do combustível que abastece Acre, Rondônia e Mato Grosso passa pelo rio Madeira, assim como todo insumo que chega a Manaus para ser vendido no comércio ou usado nas empresas do Polo Industrial de Manaus.

O rio também é usado para escoar parte da produção do agronegócio brasileiro, que ensinou os empresários locais a usar o rio, mas que eles agora precisam avançar neste processo de uso do recursos natural.

“Isso significa ter multimodalidade, trocar de modal na velocidade necessária e usar tecnologia embarcada“, explicou. “Temos grandes reservas de gás natural, mas isso não é usado para mover a frota. Imagina quando tivermos toda a frota movida a gás?”, completou

O empresário também citou que uma concessão bem feita do rio Madeira vai reduzir custos logísticos para o País e melhorar a pegada ambiental, além de permitir uma navegação segura e ordenada pelos 12 meses, com dragagens pontuais durante períodos de vazante.

Concessão do rio Madeira na pauta da nova secretaria nacional

A vantagem ambiental da navegação também foi destacada pelo secretário Nacional de Hidrovias e Navegação do Ministério dos Portos e Aeroportos, Dino Batista. Ele defendeu ao longo do webinar da FGV que este tipo de transporte tira milhares de caminhões das estradas e reduz emissões de carbono.

Apesar dessas vantagens ambientais, Dino Batista afirmou que licenciamentos ambientais para obras em rios brasileiros sofrem para avançar por falta de um diálogo entre as partes envolvidas.

“O transporte aquaviário é mais sustentável e uma solução para a transição energética, mas essa é uma vantagem que a gente não usa. Na Europa uma empresa que tem um projeto localizado ao lado de uma hidrovia tem licenças emitidas rapidamente. No brasil é o contrário. Temos de ter um diálogo com o Ministério Público e órgãos de controle (ambientais) para jogar luzes nisso”, defendeu Dino.

Dino Batista também relatou a importância da criação da secretaria, em abril deste ano, e falou sobre as primeiras ações do chamado programa BR dos Rios, um conjunto de iniciativas do Ministério dos Portos e Aeroportos e cujo “cartão de visita” será a concessão do rio Madeira até o final deste ano.

“A concessão do rio Madeira será a primeira, mas acreditamos que ela será uma quebra de paradigma, pois traremos a iniciativa privada para este negócio. A BR dos Rios vai trazer soluções para problemas que envolvem obras publicas fundamentais, mas as concessões serão destaque”, explicou.

Para o mediador dos Diálogos Amazônicos e professor da FGV, Marcio Holland, o importante é que hoje entrou em discussão a navegação interior e o transporte de cargas e passageiros em hidrovias seguras aproveitando que no Amazonas os rios são caminhos naturais para o desenvolvimento.

Fonte: RealTime1