09/10/2023 10:10
MANAUS – Os 14,79 metros de profundidade na orla da capital, segundo medição do Porto de Manaus na sexta-feira (6), deixam a navegação no Rio Negro complicada. Tanto entrar quanto sair da água se tornou um exercício de paciência e cuidados redobrados.
A seca afeta a economia. É que o nível do rio torna inviável embarcar e desembarcar carretas. No porto da Silnave, no São Raimundo, zona oeste da capital, 30 carretas lotadas de mercadorias estão retidas em uma balsa. A rampa de embarque e desembarque ficou acima do nível da água, o que impede a retirada dos veículos.
A vazante atrapalha tanto a chegada quanto a saída de mercadorias. No caso das carretas retidas, há alimentos e insumos para indústrias da Zona Franca. Com as balsas quase no leito do rio, o embarque é descartado por dificuldade de alcançar a embarcação e retirar a carga do porto.
As empresas buscam outros locais para adaptar rampa ao nível da água. Essa alternativa gera dois impactos: possibilidade de avaria das cargas e o aumento do custo da operação em até 14%.
No caso da balsa retida no porto da Silnave, há cargas da Coca-Cola e da Valfilm [matéria prima plástica]. Os fabricantes terão que esperar para receber a mercadoria. Não há previsão para a entrega.
A viagem de Belém a Manaus, e vice-versa, durava em média cinco dias com o rio no nível normal. Hoje, leva-se sete dias, segundo profissional de logística consultado pelo ATUAL.
Um impacto direto da situação é a falta de insumos nas fábricas. Indústria com estoque baixo deve paralisar a produção por falta de matéria prima. Caso o problema persista por mais tempo, a dispensa de funcionários também é inevitável.
Isso porque o sistema de cabotagem – transporte de contêineres – encerrou as atividades para Manaus no dia 15 de setembro devido ao baixo calado dos rios [profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação em relação à linha d’água. O calado mede-se verticalmente a partir de um ponto na superfície externa da quilha e a superfície da água]. Nesta data os armadores fecharam os booking [reservas de contêineres a serem alocados nos navios] em portos como o de Santos e os do Nordeste.
Outro efeito é a falta de carretas. em a cabotagem, para escoar a produção usa-se o transporte rodoviário, o que aumenta a demanda pelas “jamantas”, como também são conhecidas esses veículos, e, consequentemente, do frete.
Segundo o especialista em logística, a carga encalhada nas balsas deve afetar também a economia em Boa Vista (RR). Manaus é passagem de mercadorias para a capital de Roraima e a demora em retirar carretas das balsas atrasa a chegada de produtos no estado vizinho. “Como se não bastasse a vazante severa, neste período houve o aumento do diesel, o que elevou ainda mais o preço do frete”, diz o profissional.
Conforme o Porto de Manaus, o rio continua secando – 11 cm, em média, por dia. Nesse ritmo, navegar está fora de cogitação. Os armadores preferem a terra firme. Mas esbarram na “seca” de carretas para o transporte rodoviário.
Fonte: Amazonas Atual