18/12/2023 12:40
Por Marco Dassori
A indústria do Amazonas tombou pelo segundo mês consecutivo, em outubro, em sintonia com a estagnação do PIB e os impactos logísticos da vazante histórica. A produção caiu 2,6% ante setembro, mesmo sendo favorecida por dois dias úteis a mais. Foi o segundo pior desempenho do país e o quinto resultado negativo do ano nesse tipo de comparação – embora o recuo tenha vindo menor do que o anterior (-6%). O confronto com outubro de 2022 mostrou retração de 5,7%, puxada por seis segmentos industriais. Na média nacional, o setor se manteve basicamente estável (+0,1% e +1,2%, na ordem).
A manufatura amazonense ainda conseguiu consolidar o acumulado do ano no azul, com 3,9% de acréscimo, mas voltou a perder posições no ranking. Nesse cenário, a indústria extrativa seguiu no vermelho e a expansão da indústria de transformação foi sustentada por sete de seus subsetores, com destaque para combustíveis, máquinas e equipamentos. Em 12 meses, o avanço já caiu para 2,6%. Em contraste, a indústria brasileira zerou em ambas as comparações. Os números são da Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE.
A regressão de 2,6% ante setembro manteve o Amazonas no penúltimo lugar, superando apenas Espírito Santo (-3,1%), em um mês com apenas cinco quedas entre as 17 unidades federativas investigadas pelo IBGE. O melhor resultado veio de Pernambuco (+12,4%) e o pior, do Espírito Santo (-3,1%). O tombo de 5,7% na variação anual fez o Estado descer da 12ª para a 15ª posição, em um rol liderado pelo Paraná (+28,9%) e encerrado pelo Rio Grande do Norte (+14,8%). Também caiu para a quinta colocação no ranking do acumulado do acumulado (+3,9%), que teve Rio Grande do Norte (+13,6%) e Ceará (-6,5%) nos extremos.
Bebidas e combustíveis
Na comparação com outubro de 2022, a indústria extrativa (óleo bruto de petróleo) encolheu 6,7%, reforçando os tombos de agosto (-9,9%) e setembro (-2,8%). A indústria de transformação desceu 5,6%, aprofundando a perda anterior (-1,9%). Somente quatro de seus segmentos avançaram e seis declinaram. As altas se restringiram a bebidas (+28,9%); petróleo e combustíveis (gás natural, com +16,8%); produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear, estruturas de ferro, +12,1%); e máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários, com +11,8%).
O pior desempenho veio de “produtos diversos” (artefatos de joalheria, isqueiros, lentes oculares, lápis, e fitas para impressoras, com -27,1%). Mas, a lista vermelha incluiu também segmentos tradicionais, como equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (celulares, computadores e máquinas digitais, com -22,4%); produtos químicos (metais preciosos, inseticidas, nitrogênio e desinfetantes, com -15,4%); e “outros equipamentos de transportes” (motocicletas e suas peças, com -5,2%); além de produtos de borracha e material plástico (-3,1%); e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias, com -1,6%).
O acumulado dos dez primeiros meses do ano ainda mostra quadro melhor. A indústria de transformação expandiu 4,3% e a extrativa ficou negativa em 1,9%. Os incrementos de produção vieram de derivados de petróleo e combustíveis (+28%); produtos de metal (+12,8%); produtos químicos (+9,1%); “outros equipamentos de transporte” (+8,5%); borracha e material plástico (+1,9%); equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos (+1,5%); e máquinas e equipamentos (+0,8%). No outro extremo ficaram as divisões de “produtos diversos” (-5,4%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,1%) e bebidas (-2,5%).
“Altos e baixos”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinala que os números confirmam uma trajetória de “altos e baixos” para a indústria local neste ano. “O problema é que isso causou uma redução brusca no acumulado. Percebe-se que praticamente todas as atividades industriais estão tendo picos e quedas. Neste momento, a torcida é que os resultados de novembro e dezembro se mantenham, para que o ano feche no positivo”, lamentou.
O pesquisador ressaltou, contudo, que a sondagem ainda não aponta indícios que confirmem essa recuperação no curto prazo. “A média móvel trimestral em outubro ficou praticamente estagnada (-0,3%). Considerando a forte tendência de queda durante os meses do ano, ainda não é possível aferir boa produção para os meses de novembro e dezembro. Resta a esperança que o indicador feche o ano positivo”, asseverou.
Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, destaca que os juros bancários seguem elevados, impactando no consumo das famílias e na capacidade de produção e venda da indústria nacional. A dinâmica é mais evidente em segmentos de bens duráveis, como o automotivo. “Em um ambiente de demanda arrefecida, um excesso de oferta pode levar a uma significativa depreciação no valor do volume produzido e estocado. Com isso, conseguimos observar um ritmo de produção moderado, justamente para acompanhar essa conjuntura na qual oferta e demanda precisam se equilibrar”, frisou.
Estabilidade e acomodação
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Antonio Silva, assinala que os números do IBGE vão ao encontro do que as lideranças da incentivada de Manaus haviam previsto para outubro, que foi o mês mais afetado pela crise logística aberta pela “histórica seca” deste ano.
“De um modo geral, considero importante que os números globais da indústria amazonense permaneçam em patamar positivo, a despeito do cenário de instabilidade econômica do país, fato que pode ser observado pelos resultados da indústria nacional no período de 12 meses. Para o último bimestre do ano, reforço o prognóstico de estabilidade dos indicadores, com leve tendência positiva. Os últimos números demonstram que a economia brasileira se acomodou após o período de imediata recuperação ao término da pandemia”, frisou.
Já o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, avalia que os dados do IBGE demonstram a resiliência da indústria amazonense, em sua busca por um desempenho positivo no encerramento deste ano, após os entraves logísticos gerados pela vazante histórica de 2023.
“Sem dúvida que o principal desafio foi a seca, uma provação que só não foi mais impactante, em virtude da ação conjunta das autoridades envolvidas. E também das rápidas providências tomadas, incluindo rotas alternativas e providências emergenciais de dragagem – que será importantíssima para os cenários futuros. Há que se destacar ainda o apoio das competentes autoridades aduaneiras, que auxiliaram nos trâmites de desembaraço. Deveremos, na média, ter um fechamento positivo”, arrematou.
Fonte: JCAM