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Polo de bicicletas do PIM aposta em corte na produção e aumento no ticket médio dos produtos

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26/01/2024 10:07

Por Marco Dassori

A indústria de bicicletas do PIM já se prepara para registrar seu terceiro ano seguido de queda de produção, em 2024. O recuo ocorre em paralelo com as apostas crescentes do subsetor em produtos de maior valor agregado e de melhor qualidade. A Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) projeta uma queda de 21,2%, reduzindo a oferta do Polo Industrial de Manaus, de 456.917 (2023) para 360.000 (2024) unidades. É o patamar mais baixo do segmento desde 1992 (135.355), conforme a série histórica da entidade.

Números divulgados durante a coletiva de imprensa da Abraciclo, realizada neste mês, indicam que o polo de bicicletas encolheu 23,7%, na comparação de 2023 com o exercício anterior (599.044). A retração veio ainda maior do que o esperado (-14,9%) pela Abraciclo, que já havia revisado seus números para baixo. A última vez em que o subsetor fechou no azul foi em 2021 (+15,7% e 723.950) – o segundo ano da pandemia. Em dezembro (7.245), a retração foi ainda mais acentuada, em sintonia com crise da vazante e o estrangulamento da demanda. O volume de produção despencou 79,63% diante de novembro (35.566) e desabou 50,31% frente ao dado de 12 meses atrás (14.580).

O PIM reúne quatro fábricas do segmento – Caloi, Sense Bike, Oggi Bikes e Houston Bike – e responde por quase 40% da oferta brasileira do produto. Durante a coletiva de imprensa, o vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, Fernando Rocha, garantiu que os recuos contínuos na produção não implicam necessariamente em uma diminuição no faturamento, já que as montadoras estão trabalhando gradativamente com produtos mais caros. A expectativa é que, com as mudanças de mercado e o emprego cada vez maior de tecnologia e inovação dos produtos, o ticket médio das bicicletas ‘made in Zona Franca de Manaus’ escale 75% neste ano, de R$ 1.600 para R$ 2.800.

“O mercado está em transformação. O consumidor está cada vez mais exigente, não olhando só para preço, mas também para a qualidade do produto, no que ele oferece de inovação e serviços agregados. A indústria está fazendo um ajuste em sua estratégia. Com esse excesso de bicicletas de entrada no mercado, o setor olha para um mercado de maior valor agregado e de ticket médio superior. Os fabricantes estão preparados e os investimentos não pararam. Os associados estão se movendo para atender essa demanda, mantendo os empregos, e a ZFM sustentável”, afiançou.

“Ano desafiador”

Segundo Rocha, 2024 já desponta com desafios significativos. “Houveram muitas apostas, durante a pandemia. Então, a indústria vai ter um planejamento com um viés mais moderado nos investimentos. O foco está na recuperação de caixa, pois tivemos um gasto muito grande em 2022 e 2023. É tentar não vender com prejuízo, e fazer essa gestão de estoque, para que o mercado retome ao que era, no pré-pandemia”, frisou.

O executivo frisa, contudo, que o ano também apresenta oportunidades, com o aumento do custo do transporte público e o crescimento da procura por bikes elétricas, entre outros fatores. “Teremos duas etapas do Mundial de Moutain Bike, em Araxá [MG], e em Mairiporã [SP]. A gente espera que isso estimule as pessoas a praticarem o esporte. Outro ponto está nas conversas com os governos para melhoria da infraestrutura e segurança cicloviária. Vemos também uma oportunidade de exportações, ainda que pequena. Por isso, vamos mostrar a qualidade dos produtos da Zona Franca e dos serviços de assistência técnica e seguros, que as associadas oferecem”, listou.

No entendimento do vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, 2023 foi um “ano desafiador” para o segmento em todo o mundo, em termos de excesso de estoque, baixa demanda, empresas com fluxo de caixa “bem dificultado” e fábricas parando. A conclusão é que o mercado global de bicicletas atravessou mais um ano de colapso, após o boom de demanda nos anos da pandemia.

“No começo de 2023 tivemos a normalização do abastecimento de insumos. Faltaram alguns componentes para modelos de maior valor agregado, mas o restante da cadeia foi todo restabelecido ao longo do ano. Mas, a gente viu também queda da demanda, pois houve uma migração para outros tipos de atividade no pós-pandemia. Isso causou um alto nível nos estoques, tanto nas fábricas, quanto entre os lojistas”, lembrou.

Os entraves no fluxo de caixa da cadeia produtiva do segmento se deram também em razão de “fatores socioeconômicos” e da dificuldade de conciliar o Custo Brasil com a maior pressão da competição global entre os players do subsetor. “O poder de compra caiu, com dificuldades de financiamento e altas taxas de juros. E ainda tem a questão da competitividade, com esse excesso de bicicletas no mundo e muita coisa importada chegando no país, a custos bem baixos”, reforçou.

MTB x Elétricas

A base de dados da entidade confirma que o mercado brasileiro continua vendendo mais bicicletas tipo Moutain Bike, embora categorias minoritárias comecem a abrir mais espaço – especialmente a elétrica. Assim como nos anos anteriores, a MTB liderou o ranking de produção de janeiro a dezembro de 2023, com 59,8% da oferta e 273.200 unidades. Foi seguida pelas categorias Urbana/Lazer (23,9% e 109.200), Infanto-Juvenil (11,6 e 52.800), Elétrica (2,6% e 11.500) e Estrada (2,5% e 10.200). Apenas a Elétrica (+5,5%) e a Infanto-Juvenil (+9,1%) conseguiram avançar em relação a 2022.

“Apesar de uma relevância não tão grande, a bike elétrica vem em um crescimento. Hoje ela representa 2,6% e, em 2024, já avança um pouco mais. Esse é um segmento que, ao longo dos próximos anos, a gente acredita que vai repetir por aqui o que já acontece na Europa: de ter 50% do mercado total de bicicletas”, afiançou. “A categoria cresceu 289% no Brasil, nos últimos cinco anos, em ritmo exponencial. Hoje, as associadas já oferecem 25 modelos elétricos e, em 2024, teremos mais lançamentos”, emendou.

O Sudeste recebeu o maior volume de bicicletas fabricadas no PIM em 2023, respondendo por 54,9% (251.000) da demanda. O segundo lugar do ranking ficou com o Sul, para onde foram enviadas 78.300 unidades (17,1%). Na sequência, vieram o Nordeste (13,8% e 63.000), o Centro-Oeste (8,6% e 39.500) e o Norte (5,5% e 25.100). Somente o Centro-Oeste (+1,8%) ganhou terreno, frente 2022. Conforme o dirigente, a distribuição vem caindo mais no Sudeste e no Sul, como reflexo do varejo nacional.

“Há um excesso de bicicletas no mercado, e essa é a razão de vermos muitos descontos, de 40% a 50% nos produtos. Por isso, dizemos que esse é um ano de cautela. Temos de acreditar que, com a taxa de juros caindo, o mercado vai voltar a aquecer, mas não achar que os estoques estão equilibrados. Trago a preocupação também que, algumas isenções de impostos, concedidas durante a pandemia e não retiradas, estão fazendo com que muita bicicleta chegue ao Brasil onde não tem mais demanda, somando-se à produção nacional. É uma bolha que está sendo reorganizada”, encerrou Rocha.

Fonte: SIMMMEM

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