17/11/2023 11:06
Diante de aterros sobrecarregados e oceanos repletos de resíduos plásticos, as empresas de embalagens estão sob crescente escrutínio de órgãos reguladores e consumidores, e seguem investindo no desenvolvimento de produtos mais circulares e sustentáveis. O primeiro Relatório Global sobre Papel e Embalagens da Bain mostra que 71% dos consumidores europeus afirmam querer comprar itens sustentáveis, enquanto a mesma porcentagem de consumidores dos Estados Unidos diz buscar produtos com o mínimo de embalagem possível.
Em contrapartida, muitos ainda não conseguem identificar quais embalagens são mais sustentáveis. O levantamento da Bain com cerca de 4.000 consumidores revela que 70% acreditam que o vidro tem uma pegada de carbono menor do que o plástico descartável, enquanto apenas 12% consideram o contrário – na verdade, o vidro tem uma pegada maior.
Como resposta à demanda por sustentabilidade, a maioria das empresas de produtos de consumo já assumiu compromissos públicos de ESG, embora muitas marcas ainda não tenham uma visão clara sobre quais materiais de embalagem utilizam em diferentes aplicações.
Segundo Daniela Carbinato, sócia e líder em ESG para Bens de Consumo nas Américas na Bain, “a realidade hoje é que as decisões sobre papel e embalagem não devem mais ser tomadas com base apenas em custo, funcionalidade e experiência do consumidor. A sustentabilidade é um tema prioritário, em especial a descarbonização e a circularidade”.
Carbinato ressalta que não há uma opção que seja a melhor em todas as situações quando se trata de escolher um material de embalagem. “A alternativa mais sustentável pode variar muito de acordo com a aplicação e a geografia. As empresas devem avaliar o impacto ambiental de diferentes materiais e levar em consideração todo o ciclo – desde a extração e produção de recursos até o transporte e o fim da vida útil dos produtos”, afirma a sócia.
O estudo da Bain reforça que a escolha de materiais deve ser realizada com base nos benefícios de cada um e suas compensações do ponto de vista da sustentabilidade. Um exemplo disso é o uso de plásticos flexíveis que, embora tenham a melhor pontuação nas emissões de carbono relacionadas à produção e ao transporte, são os menos circulares ou biodegradáveis.
Crescimento e criação de valor
O setor das embalagens tem potencial de crescimento de 21%, atingindo US$ 1,2 bilhão nos próximos três anos, com maior expansão na categoria de papel rígido, que pode ultrapassar as taxas de crescimento do plástico até 2026. Na esteira desse progresso, as ambições de descarbonização também seguem em alta. Até 2019, apenas cinco companhias do setor haviam se comprometido com metas de sustentabilidade baseadas na ciência. Em 2022, já era possível contabilizar 164 empresas com esse foco. No entanto, mais de 30% delas não atingiram suas metas de curto prazo de Escopo 1 e 2. Um número ainda maior (41%) deixou de alcançar seus objetivos de Escopo 3.
A pesquisa da Bain indica ainda que as companhias de papel e embalagens que investem em sustentabilidade chegam a observar um aumento de EBITDA de 4% a 6% por meio da redução eficaz de custos e alavancas comerciais. Estratégias robustas de sustentabilidade têm potencial para diminuir os custos de energia e aumentar o acesso a matérias-primas recicladas ou renováveis a valores competitivos, bem como estimular o crescimento orgânico e a realização de preços.
Redução da biodiversidade
A indústria de Papel e Embalagens tem um impacto significativo na biodiversidade, principalmente em relação à gestão florestal e à utilização da água. Apenas 22% das empresas do estudo relataram ter avaliado o impacto da sua cadeia de valor na biodiversidade e apenas 31% dizem promover ações para limitar a redução de biodiversidade. As empresas que optam por agir investem em iniciativas para diminuir a exposição da marca e da operação aos riscos relacionados à biodiversidade. Líderes utilizam práticas sustentáveis de manejo florestal e aumentam a participação de materiais reciclados e reutilizados em seus produtos para atrair os clientes. Outras se dedicam ao desenvolvimento de embalagens inovadoras que podem alcançar novos mercados com menor pegada de carbono e mitigação de riscos à biodiversidade.
Private equity e fusões e aquisições no segmento
O setor de Papel e Embalagens teve duas vezes mais negócios de fusões e aquisições em relação ao seu tamanho do que o restante da indústria manufatureira na última década, com mais de 2.000 transações desde 2007. Entre elas, 84 alcançaram valores superiores a US$ 1 bilhão e 11 delas ultrapassaram os US$ 5 bilhões.
Dentro do setor de embalagens, os negócios relacionados a papel têm sido mais lucrativos que os de plástico e vidro. Esse grande volume de atividades de fusões e aquisições vem tanto de investidores estratégicos, que estão preenchendo lacunas em suas carteiras, quanto de participantes externos de private equity, que desejam gerar valor com novas aquisições.
O relatório da Bain apresenta uma série de desafios e oportunidades adicionais que a indústria enfrenta, entre eles:
A transformação em direção ao pleno potencial da indústria passar pela descarbonização. O esforço multifuncional para alterar a trajetória financeira, operacional e estratégica do setor inclui cada vez mais um plano concreto e detalhado de redução de carbono - transformação que pode aumentar drasticamente a rentabilidade, o fluxo de caixa e o crescimento de receitas.
A fábrica do futuro é integrada e flexível, sustentável e orientada pela tecnologia. Por meio da otimização, ela alcança produtividade máxima com alto tempo de atividade e elevada integridade dos ativos, o que reduz o desperdício. Essa fábrica do futuro é adaptável e permite redução de custos e de emissões de carbono, além da otimização do atendimento ao cliente.
Três caminhos para aumento da lucratividade. As empresas do setor podem aumentar o seu EBITDA entre 25% e 40% abordando três áreas. 1. Muitas empresas de papel e embalagens ainda não têm uma visão robusta da rentabilidade; 2. Poucas entendem o quanto podem capturar de negócios adicionais com seus clientes atuais; 3. Muitas não possuem uma lista abrangente e estratégica de novos clientes para trabalhar. Melhorar a compreensão nestes três pontos pode desbloquear um crescimento significativo.
Abraçando a incerteza. As flutuações da oferta e da procura, a volatilidade dos custos de energia e dos preços de matérias-primas e os riscos geopolíticos continuam no horizonte. O impacto e o momento da transição ecológica, as novas tecnologias, incluindo a inteligência artificial, as embalagens inteligentes e a penetração do comércio eletrónico também estão ganhando destaque. Desse modo, abraçar a incerteza, planejar cenários e se preparar para o futuro são habilidades fundamentais para crescer nesse setor.
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