15/01/2024 10:38
O ano de 2024 desponta com boas oportunidades para o Brasil e o Amazonas, em meio a um mundo ainda turbulento, do ponto de vista geopolítico e mundial. Mas, tende a registrar problemas antigos e estruturais que inibem o potencial de crescimento do Estado. A avaliação é do economista e empresário e presidente da Fogás, Jaime Benchimol. Sua análise sobre as perspectivas do ano foi concedida durante palestra realizada na sede da Associação PanAmazônia – entidade sem fins lucrativos –, na noite desta quinta (11).
No fronte externo, haveria um cenário de “inflação sendo controlada” pelos juros, sendo que 62% dos analistas aponta que a economia global deve avançar entre 1,5% e 3%, neste ano. Há uma expectativa de “pouso suave” (controle da inflação sem necessidade de recessão) nos EUA, e de melhora na performance da China, com alta de 4,5% a 6%, após a desaceleração imposta pela crise da covid-19. Outro destaque vem da India, com estimativa de crescimento é de 8%.
O empresário lista diversas tendências mundiais para 2024. Uma delas é a difusão de eleições em países que somam em torno de 4,2 bilhões de pessoas, mais da metade da população global. “Os eleitores e os tribunais darão seus veredictos sobre o ex-presidente Donald Trump [do partido Republicano], que tem uma chance em três de recuperar a presidência. O resultado pode se resumir a algumas dezenas de milhares de eleitores em um punhado de Estados indecisos. Mas, as consequências serão globais, afetando tudo, desde a política climática até o apoio militar à Ucrânia”, frisou.
Jaime Benchimol frisa que a Europa “precisa se reerguer” e fornecer à Ucrânia o apoio militar e econômico para “uma longa luta”, ao mesmo tempo que traça um caminho para a eventual adesão deste à UE. Do lado do conflito no Oriente Médio, a partir do ataque do Hamas à Israel, há dúvidas sobre sua difusão ou “uma nova chance de paz”. “O plano dos EUA de se concentrar na Ásia foi desviado pela guerra na Ucrânia e, agora, em Gaza. A Rússia também está distraída e perdendo influência. O mundo está se preparando para mais conflitos, agora que o ‘momento unipolar’ dos EUA acabou”, destacou.
Na análise da liderança empresarial, a desaceleração da China, o aumento das tensões em Taiwan e a persistência dos EUA em limitar o acesso chinês a tecnologias avançadas, intensificaram a retórica da “nova guerra fria”, mas deve haver maior dificuldade para as empresas ocidentais reduzirem a dependência de cadeias de suprimentos na China. E tudo isso deve correr em um ambiente de incerteza. “As economias ocidentais se saíram melhor do que o esperado em 2023, mas ainda não estão completamente fora de perigo. A manutenção de taxas de juros ‘mais altas por mais tempo’ será dolorosa”, alertou.
O economista observa, por outro lado, que a transição para a energia limpa está criando novas “superpotências verdes” e redefinindo o mapa de recursos energéticos. “Lítio, cobre e níquel agora se tornam muito mais importantes, enquanto petróleo, gás e as regiões que dominam seu fornecimento perdem relevância”, acrescentou. De outro lado, há o avanço da inteligência artificial. “As empresas estão adotando continuam a aprimorar. O debate sobre a melhor abordagem regulatória vai se intensificar. Usos e abusos inesperados continuarão surgindo. Seu maior impacto real? Codificação mais rápida”, emendou.
Produtividade e agronegócios
No fronte nacional, ao citar dados da pesquisa Focus, ele destaca que o crescimento de 3% aguardado para o PIB nacional se deve principalmente ao agronegócio, e que a taxa de desemprego ficou em 8%. A bolsa de valores também apresenta números positivos. “Temos um câmbio de R$ 4,90 e as estimativas é que ele se mantenha assim, porque o saldo da balança comercial está batendo recorde, com quase US$ 100 bilhões de exportações acima das importações. A taxa de juros tende a cair e a inflação do IPCA deve convergir para a parte superior da meta estabelecida pelo Banco Central”, avaliou.
Mas, ele salienta que todos os 15 principais itens exportados pelo país são commodities, com destaque para soja, petróleo, minérios de ferro, açúcar e milho. “Essa é uma virtude, porque é fácil de vender. Mas, também é um problema, porque agrega pouco valor. É muito difícil desenvolver um país vendendo apenas produtos primários. Pensando mundialmente, me ocorre apenas o exemplo da Nova Zelândia”, exemplificou, acrescentando que o Brasil tende a ter um “crescimento morno” de 1,6% a 2%, em 2024 e 2025.
Segundo o economista, o processo de recuperação do Brasil se encontra estagnado nas últimas três décadas, “ao passo que a renda de seus pares vem convergindo” para o padrão norte-americano. “A agricultura [que representa 15% da economia] é nossa estrela. O crescimento acumulado na mão de obra no setor tem sido extraordinário e país cresce a um patamar similar ao da China. A modernização e a mecanização têm sido notáveis. Mas, quando fazemos a mesma comparação na indústria, não há quase nenhum ganho de produtividade. Talvez isso tenha a ver com nossas instituições ou leis trabalhistas. Na área de serviços, a mesma acontece”, lamentou.
Reforma e carbono
O empresário aponta que o PIB da região Norte deve ter crescido acima da média em 2023, em torno de 3,7%. A projeção para a região em 2024 é de uma alta de 1,4%, sendo que as unidades federativas que têm o agronegócio em maior destaque aparecem com números maiores. O Amazonas, que tem seu modelo de desenvolvimento ancorado na indústria, desponta nesse cenário com taxas positivas de 2,4% e 1,6%, nas respectivas comparações.
Ao falar da reforma Tributária, Benchimol concorda que a preservação do IPI cria “perspectiva de estabilidade na ZFM”, mas alerta que a Amazônia Ocidental poderá perder incentivos do tributo federal, assim como de ICMS. Ele aponta que a Lei 2.229/23, que regulamenta créditos de carbono, pode ser positiva. “Os agronegócios não terão obrigações de metas de carbono, e a lei poderá criar maior valor para a floresta preservada. Acre e Tocantins já têm 100 milhões de toneladas de carbono a negociar”, citou, ressalvando que o Estado ainda recebe pouco pelo que oferece em serviços ambientais.
O empresário avalia que 2024 surge com uma “agenda a favor da infraestrutura” e que diversas obras podem “ganhar tração”, com ações a favor da logística, transporte fluvial, balizamento, dragagem e redução da praticagem. Ele estima também que a BR-319 deve ser foco de “asfaltamento parcial”. O cenário também se mostraria promissor para o Estado abrir o leque de atividades econômicas. “A exploração de petróleo e gás na região ganhou novo capítulo com leilões em 2023, incluindo a permissão para explorar a margem equatorial brasileira, com participações da Atem e Eneva”, completou.
Mas, ao citar estudos do Banco Mundial, observa que o Estado ainda tem um caminho longo para se desenvolver, com poucos polos de desenvolvimento e números desfavoráveis de IDH no interior, papel preponderante do emprego público – que não primaria pela produtividade – e maior tributação de ICMS. “Não estamos bem posicionados e um argumento que eles dão é que precisamos dar mais atenção às cidades, que são muito pequenas, distantes e sem condições de oferecer expectativas a seus habitantes”, concluiu, acrescentando que o Amazonas é terceiro em nível de pobreza.
Fonte: SIMMMEM