15/03/2024 08:55
Por Guilherme Guerra
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN — A adoção gradual da
inteligência artificial (IA) promete causar uma reviravolta no dia a
dia de escritórios de todo mundo. Para o americano Ian Bearcraft,
tido como um dos maiores especialistas em implementação de
ferramentas de IA no mundo do trabalho, a nova era começa com
a ascensão de uma categoria de trabalhadores: os generalistas
criativos.
“Um generalista é alguém que não é especialista em um só domínio”, explica Bearcraft, CEO da consultoria Signal And Cipher, no palco do South by Southwest(SXSW) 2024, festival de tecnologia, música e cinema que ocorre em Austin entre 8 e 15 de março. “Há um aprofundamento em vários assuntos, mas, mais importante, essas pessoas fazem um grande cruzamento de interesses, hobbies, especialidades e ferramentas”. Os generalistas criativos vão substituir os profissionais especialistas, isto é, aqueles que passam anos e anos dedicando-se a um punhado limitado de funções e habilidades. Segundo ele, a IA vai substituir essas pessoas, enquanto aqueles que souberem trabalhar diversas competências e adotar diferentes tecnologias devem acelerar a produtividade e manter-se no mercado de trabalho.
Otimista com os potenciais da tecnologia, Bearcraft explica que cada trabalhador vai ter um conjunto de habilidades que vai ser ampliado com a ajuda da IA. Esse é um caminho sem volta, diz, assim como a digitalização dos serviços.
No SXSW 2024, Bearcraft deu um exemplo de como um generalista criativo operaria. Uma pessoa sem habilidade de desenho poderia ir a um gerador de imagem, como o Midjourney ou Dall-E 2. Na ferramenta, daria comandos detalhados por texto, descrevendo como deve ser a ilustração final, que então fica pronta em minutos. O resultado não vai ser igual ao de um profissional humano (que fica encarregado de tarefas mais complexas), mas pode quebrar um galho e ganhar tempo no dia a dia do escritório. “A IA vem para dar um empurrãozinho nesse processo (de criação), porque nos permite extrair os anos, a disciplina, a experiência e o esforço necessários para ter um desempenho decente em centenas de competências diferentes”, afirma Bearcraft.
Os generalistas criativos devem utilizar a IA da mesma forma que a calculadora tornou-se item essencial nas escolas e universidades, diz o americano. Após protesto inicial dos professores de matemática, a ferramenta tornou-se parte do dia a dia do aprendizado. “E a matemática ficou mais difícil para os alunos”, acrescenta — a lógica passou a ser cobrada, e não a decoreba de tabuada.
Com a IA introduzida ao trabalho, todos os generalistas criativos têm disponíveis as mesmas ferramentas: criadores de texto, de imagens, de vídeos etc. O que vai diferenciar é como cada indivíduo vai mesclar suas habilidades com as da máquina
“Você não precisa ter anos e décadas de experiência. Simplesmente vai ser possível adotar as ferramentas e orquestrar a IA para fazer o trabalho acontecer”, prevê Bearcraft no palco do SXSW. “A verdadeira equipe do futuro do trabalho vão ser as equipes e as IAs interagindo entre si, sendo a automação a base de tudo isso.”
Empresas bilionárias de uma pessoa só Com os generalistas criativos e inteligência artificial unidos, as empresas do futuro devem ficar menores, mais enxutas e eficientes. Departamentos inteiros podem ser dissolvidos para serem substituídos por robôs. “Equipes pequenas vão ter impactos massivos no negócio”, diz Bearcraft. O especialista cita a recente declaração do empresário Sam Altman, cofundador e presidente executivo da OpenAI (desenvolvedora do ChatGPT). Em fevereiro, o executivo afirmou que, em breve, “empresas bilionárias de uma pessoa só” devem começar a surgir — a fala é uma referência às startups que vão ter poucos funcionários, mas milhares de robôs automatizando tarefas que antes eram de humanos.
Para Bearcraft, esse cenário de automação deve levar a uma semana de quatro dias de trabalho, com a economia de tempo nos escritórios. Basta as pessoas começarem a transformação. “O emprego está morto. Vida longa ao trabalho”, disse ele, no SXSW 2024. *Repórter viajou a convite do Itaú.
Fonte: Estadão