02/08/2024 08:27
Professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e doutor em Engenharia de Transportes, Augusto César Barreto Rocha avalia que a dragagem dos rios do Amazonas, no período da seca, não vai resolver o problema da navegação. Para ele, enquanto não houver estudos detalhados sobre os rios, especialmente em relação aos seus sedimentos, a dragagem não será efetiva, independente do equipamento utilizado.
“A dragagem não vai funcionar. E não é uma questão de equipamento, é uma questão de volume de sedimentos chegando. Tem uma hidrodinâmica absurdamente grande naquela região do rio Amazonas, então não há como a dragagem funcionar. Teria que ter um mapeamento com muita precisão sobre como se move essa água, como se movem esses sedimentos, para definir onde é o canal de dragagem, onde se quer fazer o canal de dragagem. O problema não é o equipamento”, ressaltou.
Em junho, o governo federal anunciou um investimento de R$ 500 milhões para a dragagem dos Amazonas, Solimões e na foz do Madeira. O serviço deve ser executado em um período de cinco anos, com a expectativa de melhorar a navegação na região, especialmente na seca.
As obras são baseadas em dois planos elaborados pelo governo. O primeiro é o de Dragagem de Manutenção Aquaviária (PADMA) e o segundo, de Sinalização Náutica. Ambos visam a manutenção da navegabilidade dos rios Amazonas e Solimões.
Histórico
Augusto Rocha também é coordenador da Comissão de Logística do Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), diretor adjunto da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), e considerado uma das principais vozes no estado sobre o tema. Ele criticou a dragagem realizada no ano passado, ao custo de R$ 141 milhões, e disse que a navegação só voltou a ser possível por causa do início do período chuvoso.
O especialista considera que a ausência de dados impede que o processo funcione plenamente, mas reconhece que há um esforço do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável por contratar o serviço de dragagem, do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para iniciar esses estudos.
“Com três anos de estudo dessas quatro instituições – Dnit, Ufam, UEA e Serviço Geológico do Brasil – se eles fizerem dois, três anos de estudo, a gente vai saber o que fazer. Porque hoje eu compreendo que não têm muito o que fazer já que não há dados, não há informações”.
“Pra você ter uma ideia, é 1,5 bilhão de toneladas de sedimentos. São quantidades assustadoras. A comparação que eu fiz num evento com o Dnit, quando eu questionei sobre isso, foi como se eu fosse pegar um copinho de água descartável e quisesse secar uma piscina olímpica”, disse.
Riscos
Outro alerta feito pelo especialista é o de que o rio Madeira, um dos principais corredores aquáticos da região Norte, utilizado para a exportação de 40% da soja brasileira, enfrente uma crise hídrica forte o suficiente para não permitir a passagem até mesmo de balsas.
“Enquanto um navio precisa de uma lâmina d’água de 7 a 8 metros, a balsa passa com 1,8 metros. Então, para não passar balsa, só uma crise hídrica gigante. No Madeira, existe esse risco nesse ano. Não aconteceu isso no ano passado. As balsas continuaram trafegando, mas esse ano está posto o risco de o Madeira não ter tráfego durante o período do auge da seca”, avaliou.
Augusto Rocha, embora docente na Ufam e membro do Cieam, ressaltou que sua opinião não representa a das entidades às quais ele está vinculado. "Essa é uma opinião particular minha, que não é consenso. Não existe consenso. Não é opinião do Centro da Indústria, da Federação da Indústria [do Estado do Amazonas] e não é opinião da Ufam".
Fonte: A Crítica