12/12/2023 09:28
André Ricardo Costa
Professor da Ufam
Cena 1. Reunidos, líderes empresariais amazonenses expressaram preocupação com nosso nível educacional, e discutem soluções. Um apontou solução para o ensino superior. Outro, porém, ressaltou que os problemas têm raiz no Ensino Fundamental e é lá que precisam ser resolvidos. Mencionou conhecer engenheiro com dificuldades em operações básicas.
Cena 2. Reunidos, servidores de uma secretaria de educação e uma representante de empresa de consultoria especializada no tema. A consultora apresentava um excelente e subutilizado sistema de gestão de pessoas, pelo qual a secretaria desembolsara milhões. Pelas tantas, uma servidora “qual o segredo do sucesso do Ceará no Ensino Fundamental?”. Consultora: “É fazer bem o ‘feijão com arroz”, as escolas limpas e com estruturas simples, professores elaboram planos de aula e o cumprem rigorosamente.”
As falas do empresário e da servidora são semelhantes quanto às razões. Ambos os discursos remetem ao conceito do espraiamento, que é o excedente dos retornos de uma atividade em relação aos benefícios a quem nela investe. Educação dá dinheiro, e não apenas ao estudante, mas o aumento de produtividade consequente de mais estudo beneficia a muitos em seu entorno. O fenômeno do espraiamento é citado por economistas de destaque, a exemplo do lituano Zvi Griliches (1930-1999), como motivo de se demandar investimentos governamentais em certas atividades. Quando há benefícios coletivos, os recursos empregados individualmente tendem a ser inferiores ao ótimo.
Contudo, se o cenário da nossa educação persiste catastrófico independente dos acréscimos de recursos governamentais, só é possível concluir que os esforços das famílias estão excessivamente distantes do ótimo. Veja-se os dados do Pisa e do Ideb, em que o Amazonas prossegue entre os piores de um dos piores. Veja-se a experiência cotidiana: Qualquer profissional de educação reclama do parco apoio familiar à maioria dos estudantes.
Nossas famílias subestimam o quanto o estudo é capaz de prover ascensão social. Com uma percepção mais acurada desse benefício, atentariam mais aos modos de organizar a rotina para ajudar as crianças e adolescentes nesta atividade que requer tanta disciplina, perseverança e um pouco de solidão. De algum modo esse aspecto precisa ser tratado.
Não sugiro tentar copiar a exaustão imposta às crianças como recorrentemente se relata dos países asiáticos líderes do Pisa. Mas há que ir além do exemplo do Ceará e da simplicidade que o levou à liderança do Ideb. Trata-se de dar um salto, como convém a quem está atrás. Procurar alguma peculiaridade nossa que nos permita alçar à liderança com mais força e rapidez.
No Amazonas, temos recursos direcionados às atividades de P&D, oriundos da Lei de Informática. Prevê-se “formação” como uma das linhas de aplicação desses recursos, que são administrados pelo CAPDA, comitê no âmbito da Suframa. Tempos atrás as regras do CAPDA impediam aplicação desses recursos nos níveis educacionais anteriores ao Ensino Médio.
Parece-me que esta restrição não mais subsiste. Seriam então oportunos projetos que treinassem nossos alunos de Ensino Fundamental nas competências de leitura, cálculos e ciências com a atratividade que só o viés tecnológico é capaz de apresentar. Novas tecnologias educacionais ajudariam os profissionais de educação na conquista do apoio das famílias, e mesmo facilitaria suas rotinas. Seria esperança de atenuar o constrangimento de, mesmo com décadas da Lei de Informática, ser o Ceará, e não o Amazonas, o destino de um novo campus do ITA.