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Distrações da Infraestrutura Amazonense

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20/08/2024 09:19

Imagine-se com uma imensa sede. Agora, conceba que alguém lhe ofereça uma deliciosa farofa seca e salgada com bacon. Não será uma boa sensação. Minimamente, chamaremos isso de distração do objetivo principal de saciar a sede com água. É o mesmo no debate público de infraestrutura. Sempre que estamos próximos de recuperar a BR-319 para o tráfego regular, surgem distrações.

A principal distração tem sido a questão ambiental. O não asfaltamento e a regulagem do entorno da rodovia, com fiscalização presente e ostensiva, com reservas de diversos tipos e pesquisa científica, poderão preservar a floresta. Fora disso, a floresta será vagarosamente destruída, como vem sendo. Se há um litígio judicial na questão do projeto e recuperação da rodovia, ele deve ser deliberado e resolvido no âmbito judicial. A Advocacia Geral da União (AGU) ou as Procuradorias dos órgãos envolvidos devem (ou deveriam) atuar urgentemente contra o impedimento da recuperação da BR-319.

A segunda grande distração tem sido as "hidrovias". Não temos hidrovias na acepção total do termo, por isso costumo usar as aspas. Elas não são perenes, não possuem alternativa e, por isso, os custos cobrados pelos armadores são tipicamente altos - em especial na época próxima da seca. Este ano, eles estão cobrando sobrepreços mesmo antes da seca chegar. É um absurdo, mas a falta de concorrência leva a este comportamento.

A terceira grande distração tem sido a ferrovia. Não temos produtos típicos de ferrovia, não há potencial econômico para a sua construção, não há diferença substancial no custo, não há operadores interessados, as distâncias são muito grandes, os produtos e passageiros transportados pela região não são adequados para trens. Mesmo assim, de tempos em tempos, quando o projeto da BR-319 amadurece, volta esta questão.

A quarta grande distração tem sido a rota para o Pacífico. Desde o projeto de Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IRSA) que isto surge. Ora como Manta-Manaus, depois Paita-Manaus, Lima-Manaus. A novidade é Shankai-Manaus. O projeto é superinteressante para a soja brasileira. Provavelmente oportuno para as fronteiras. Mas não substitui em nada a necessidade da BR-319. Muito menos é alternativa para o Polo Industrial de Manaus. Todavia, sempre que a rodovia está para ser recuperada, ressurge o assunto do acesso ao Pacífico.

Tudo isso é distração. O Brasil é um país rodoviário. Mais de 60% da movimentação de cargas é por rodovias. Enquanto não tivermos conexão com rodovias para o restante do Brasil, sempre estaremos expostos aos desequilíbrios de custos. Nada contra a farofa - a questão é sobre o que precisamos. Nada contra a Rota do Pacífico - a questão é para o que ela serve. Ela é útil para a soja. Nada contra ferrovias: elas são ótimas para minérios. Nada contra as hidrovias, mas precisamos de portos, retroportos e vias navegáveis o ano inteiro, com modais alternativos para contrapor os altos custos. Nada contra aeroportos, mas precisamos de mais voos.

Precisamos sair das distrações e passar para as ações. Fora disso, não haverá desenvolvimento.

Fonte: A Crítica

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