06/12/2023 11:00
Por André Ricardo Costa
Professor da Ufam
Qualquer avaliação depende de comparações. Para avaliar a eficácia de remédios as pesquisas comparam os grupos de tratamento e de controle. Os participantes do grupo de tratamento tomam o remédio, no controle tomam o placebo. Se ao fim da experiência o estado dos que tomaram remédio for significativamente melhor que os do controle, dá-se o remédio por eficaz. Caso contrário, tenta-se ajustar a dosagem ou se declara a ineficácia. Perdoem-me os médicos pela simplificação.
O Amazonas é sui generis quanto à avaliação de sua economia. É baseado numa indústria de transformação incentivada, desde cerca de 1990 alheio aos insumos locais, e tem ao lado o Pará, semelhante em tamanho e disponibilidade de recursos naturais, com modelo de desenvolvimento baseado em extrativismo e agropecuária. O Pará é o nosso contrafactual, a situação em que estaríamos não fosse a escolha pelo PIM.
Alguns indicadores permitem avaliar a escolha feita para o Amazonas. Em síntese, nosso estado não está significativamente melhor que o do Pará. Em 2021, nosso PIB per capita a valores correntes foi de R$ 33 mil. Do Pará, R$ 32 mil. Nosso IDH, 0,7 e o do Pará, 0,69. O que preocupa não é a semelhança dos indicadores. O problema é a tendência. Enquanto mal recuperamos o nível de produção anterior à crise de 2015, a economia do Pará disparou com o dólar e consequente aumento da renda de suas exportações em reais.
A essência, o princípio ativo da indústria de transformação é a geração de valor. É a isso que os gestores locais precisam se apegar para tornar eficaz a escolha pelo polo incentivado. Na minha tese de doutorado propus um modelo de geração de valor a nível das empresas fundamentado nos ganhos de acesso a insumos, de volume de produção, de sinergias entre ativos e de flexibilidade gerencial. Aplica-se ao PIM na percepção de que o cumprimento da rentabilidade inicialmente prevista na implementação dos projetos é o mínimo, ainda que difícil. Valor mesmo se obtém por superação de expectativas. Por exemplo, se após aqui instaladas, as empresas percebem que a mão-de-obra local é melhor que se supunha, ou a fazem ser melhor. Que o processo de atualização dos PPBs se tornou mais ágil. Que as estruturas logísticas surpreenderam em eficiência. E assim por diante.
Forjar esses cenários e prover esses ativos nunca foi ou será fácil em qualquer lugar, mas o sucesso ocorre onde são melhores as iniciativas de coordenação. Bem explicou o economista britânico Richard Coase (1910-2013) que as empresas existem justamente como instrumento de coordenação para solucionar a dificuldade dos indivíduos em perceber o valor de certos ativos e se apropriar de seus frutos. Em abrangência maior, as próprias empresas replicam essas dificuldades, e tendem a atuar em coordenação para prover os ativos que lhes são comuns.
No momento testemunho um marco na coordenação entre as empresas do Amazonas. Trata-se da intensificação dos trabalhos do Cieam por meio das comissões temáticas, abarcando todas as dimensões relevantes ao ambiente empresarial. Como pesquisador, espero conseguir avaliar os efeitos desse evento como tratamento às empresas e à economia amazonense como um todo. Que todas façam parte do tratamento e tomem na dose certa.
Fonte: JCAM