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Como a Biomassa Florestal pode ser a chave para o futuro sustentável da Amazônia – entrevista com Niro Higuchi

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11/03/2024 11:35

O portal BrasilAmazôniaAgora traz hoje uma entrevista exclusiva com o doutor Niro Higuchi, uma das maiores autoridades científicas do mundo sobre Amazônia, destacando sua contribuição inestimável para a pesquisa e conservação da floresta através de seu trabalho no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e como assessor da Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM). Com décadas dedicadas ao estudo da biomassa florestal, Higuchi tem sido uma peça fundamental na compreensão e na promoção de práticas sustentáveis que visam a mitigação da mudança climática e a preservação da biodiversidade amazônica.

Abordamos temas cruciais como a importância da estimativa da biomassa florestal para o manejo sustentável e a luta contra a mudança climática, a necessidade de compartilhar conhecimento acumulado sobre a Amazônia para proteger este ecossistema vital, e o papel das indústrias, especialmente no Polo Industrial de Manaus, na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Higuchi enfatiza a responsabilidade do setor industrial no combate às emissões de GEE e destaca como a colaboração entre os setores industrial e florestal pode levar a avanços significativos na preservação ambiental e na sustentabilidade.

Entrevista com Niro Higuchi

Por Alfredo Lopes
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BrasilAmazôniaAgora: Que razões poderia apresentar a um executivo do Polo Industrial de Manaus para convida-lo a fazer uma imersão no curso de biomassa florestal: Estimativa da biomassa (água e carbono) da floresta amazônica focada em manejo florestal sustentável e mudança do clima?

A Convenção do Clima foi aprovada em 1992 e transformada em lei brasileira em 1994. O principal objetivo da Convenção foi a necessidade de controlar as emissões para a atmosfera de gases de efeito estufa (GEE). Hoje, o mundo está concentrado na solução do problema relacionado com as emissões crescentes de GEE. A Convenção foi assinada para manter os níveis de emissões de 1990. Hoje, as emissões não só não foram mantidas aos níveis de 1990, como aumentaram em 57%. Cada dia fica mais claro que essas emissões têm relação direta e positiva com a temperatura média de superfície do planeta Terra.

A Convenção se apoiou no princípio da “responsabilidade comum, mas diferenciada” para definir medidas de combate ao excesso de GEE na atmosfera. A responsabilidade diferenciada está ligada à capacidade de emissões de GEE, tanto do passado como do presente. Grosso modo, em termos de emissões, o setor industrial contribui, direta ou indiretamente, com 2/3 e os outros setores (inclusive, agropecuária) com 1/3 das emissões.

O setor industrial precisa assumir o seu papel no processo de desacelerar e diminuir as emissões. O setor industrial foi decisivo no processo de eliminação dos CFCs (clorofluorcarbonos) que prejudicam a camada de ozônio; assim como no controle de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx), que causam a chuva ácida. Chegou a hora do setor assumir o protagonismo no combate ao excesso de GEE na atmosfera.

As árvores podem ajudar a mitigar apenas uma parte desse problema. No entanto, o setor florestal está bem próximo de ter, em mãos, um método para estimar as emissões pelos diferentes setores econômicos e as remoções pelos sumidouros (floresta, por exemplo) de GEE. Com essas informações, o setor florestal pode conseguir zerar as emissões e ainda contribuir para proteger a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos prestados pela floresta. Para controlar os 2/3 das emissões, o setor industrial precisa, primeiro de tudo, investir pesado em tecnologias que emitam menos GEEs. Depois, este setor precisa se associar ao florestal para mitigar as suas emissões.

BAA – Você está trabalhando nesta pauta há algumas décadas. Por que é importante compartilhar este conhecimento com a inteligência regional e nacional?

Todo esse conhecimento acumulado durante mais de quatro décadas ainda é insuficiente para entender o real papel das florestas da região no funcionamento dos ecossistêmicos e na proteção de outras formas de vida. Essas florestas foram formadas há, pelo menos, 1500 anos. Assim como não é possível esperar 1500 anos para entender isso, também não dá para sair com uma receita (como a de bolo) em uma única geração de pesquisador. Como se dizia antigamente: “uma andorinha só não faz verão”. É isso!

Precisamos compartilhar o conhecimento com todos, locais, regionais, nacionais e internacionais. A liturgia do cargo de pesquisador público exige retroalimentação permanente. Precisamos abreviar um pouco o tempo para entender os processos dentro de uma floresta. Se não pudermos sair com uma receita, nós podemos, pelo menos, estabelecer os cuidados mínimos para manejar e proteger esse patrimônio.

BAA – Você está assessorando a agenda ESG na Comissão do CIEAM. Quais são as metas e as perspectivas dessa parceria?

Estou apoiando a iniciativa da Comissão ESG do CIEAM em um projeto de carbono da floresta do Distrito Agropecuário da SUFRAMA. A ideia original é replicar as pesquisas do laboratório de manejo florestal (LMF) do INPA em uma área de floresta, ainda não designada pela SUFRAMA. Com isso, em pouco tempo, nós podemos conhecer o tamanho dos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta amazônica. O foco é sobre as ciclagens de carbono, água e energia. Além dos estoques, o foco será sobre a capacidade de troca gasosa entre a floresta e atmosfera.

A Comissão de ESG do CIEAM contando com o assessoramento de Niro Higuchi e a liderança de Régia Moreira Leite (à esquerda)

Hoje, a gente deve iniciar o inventário de uma área piloto de, aproximadamente, 200 hectares. Assim que o inventário estiver pronto, nós vamos apresentar um relatório para a Comissão ESG do CIEAM. Esse relatório deve ser suficiente para embasar um projeto dentro da agenda ESG do CIEAM, não só com as estimativas preliminares dos estoques de carbono e água, mas também com o detalhamento dos recursos (humanos e materiais) necessários para levar a cabo um projeto dessa natureza.

foto: Rodrigo Cabral/MCTI

Depois disso, é com a Comissão do CIEAM. Essa comissão tem que se apropriar dessa ideia e levar a cabo o projeto pensando na reputação das indústrias da ZFM em relação às emissões de GEE e na floresta, que precisa ser protegida para mitigar essas emissões. Estamos trabalhando para que o projeto esteja aprovado antes da COP30 em Belém. O LMF do INPA vai fornecer elementos para a elaboração do projeto e suporte técnico para a sua implantação. A Comissão ESG do CIEAM deve assumir sozinha a execução.

BAA – Você acredita que é possível certificar a economia regional pode levar a Zona Franca de Manaus a ser uma referência de descarbonização industrial?

Descarbonizar a indústria é, praticamente, impossível. O carbono está presente no cotidiano humano e das indústrias. A água, por exemplo, não tem carbono em sua fórmula, mas se for retirada de um rio ou de um poço artesiano, vai demandar algum tipo de energia (que tenha carbono em sua fórmula ou que o precise em sua produção). Os trabalhadores precisam de carbono para existirem. Quase todas as matérias-primas utilizadas na indústria tem algum tipo de composto derivado do carbono em suas fórmulas. O melhor é cumprir aquilo que foi acertado em acordos e convenções, que não é descarbonizar, mas diminuir as emissões de GEE.

O CIEAM mantém uma comissão para a inclusão dos princípios ESG nas indústrias da ZFM. Na parte ambiental (E), a questão relacionada com a mudança do clima está presente. Mudança do clima é sinônimo de gases de efeito estufa (GEE), ou seja, emissões pelas fontes e remoções pelos sumidouros. Talvez, o primeiro passo seja a estimativa das emissões de cada indústria. Estabelecer metas de redução por meio de campanhas de educação ambiental (S). Por último, produzir (G) bens de consumo que emitam menos.

No processo de mitigação das emissões das indústrias da ZFM, eu acho possível demonstrar que as florestas protegidas pela SUFRAMA, no Distrito Agropecuário, possam desempenhar esse papel. Isso pode ser uma referência para o Brasil e para o mundo. Se esse projeto da comissão ESG do CIEAM for executado, a repercussão positiva será enorme considerando uma demonstração efetiva da prática do “E” do ESG.


Niro nasceu no Paraná, em 1952, e trabalha em Manaus, no Inpa, desde 1980. É Engenheiro Florestal (UFPR 1975), Mestre (UFPR -1978), Doutor (Michigan State University 1987) e Pós-Doutor (University of Oxford 1998). Pesquisador em Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Inventário e Manejo Florestal, é membro titular da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Um dos únicos brasileiros a receber o prêmio Nobel da Paz, em 2007, com outros cientistas que trabalham na ONU, para estudos e defesa do Clima.

Alfredo é filósofo, ensaísta e co-fundador do portal BrasilAmazôniaAgora

Fonte: BrasilAmazôniaAgora

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