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Bioeconomia na Amazônia: superando desafios ambientais e estruturais para um futuro sustentável

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07/03/2024 12:23

Por: Gerson Severo Dantas

O desafio de implantar a “Bioeconomia na Amazônia” passa pelo aproveitamento dos saberes produzidos na região, atrair bons profissionais para atuar com esses saberes e ainda criar uma estrutura de infraestrutura que supere os desafios ambientais que paralisam este setor atualmente.

Essas ideias foram debatidas numa transmissão ao vivo que reuniu, nesta quarta-feira (6), o empresário, economista e ex-secretário de Planejamento do Governo do Amazonas, Dennis Minev; o coordenador da Comissão do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) de Logística, Augusto Rocha, e o amazonólogo Alfredo Lopes, que mediou a discussão.

Dennis Minev defendeu que incentivar a bioeconomia passa por atrair bons profissionais para a região e citou como exemplo os professores Ennio Candotti, que veio morar em Manaus para dirigir o Museu da Amazônia, hoje uma referência da região, e Spartacus Astolfi, um dos idealizadores do Centro de Bionegócios da Amazonônia (CBA).

Não há nada de errado com os nossos caboclos, mas sempre é bom trazer talentos de fora. No passado nós buscamos, sem vergonha alguma, estrangeiros para dirigir o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), então não pode ter xenofobia“, defendeu Minev, um dos acionistas do grupo Bemol e Fogás.
Agora eu sonho que o Guilherme Leal, fundador da Natura, da próxima geração seja um indígena, um ribeirinho, mas no momento a gente está desperdiçando muito a visão empresarial do nosso caboclo“, completou Minev

Sobre o desafio de consolidar a bioeconomia que torne a Amazônia rica a partir destes saberes e dos municípios do interior, Minev afirmou que é necessário ter duas preocupações: reter os profissionais no interior e aproveitar áreas degradadas e o potencial que elas nos oferece.

Acompanhei como secretário (de Planejamento) o momento em que a Universidade do Estado do Amazonas estava indo para o interior. Infelizmente aqueles profissionais que fizeram esse trabalho não ficaram no interior, pois para isso acontecer era necessário que tivéssemos cidades atraentes“, analisou

Dennis Minev defende que até mesmo Manaus sofre para manter aqui os melhore quadros profissionais, pois assim que eles recebem convites para lugares melhores vão embora

É difícil ter uma cidade atraente, mas se você quer construir a bioeconomia (que vai nos enriquecer), devemos ter cidades boas para as pessoas viverem“, receitou.

Outro ponto importante para o desenvolvimento da bioeconomia é aproveitar os mais de 90 milhões de hectares de terras da Amazônia que foram desmatados e neles criar oportunidades de negócios concentrados até mesmo de pecuária e soja, considerados pelos ambientalistas como os vilões da região.

Já temos ciência para começar a fazer o que chamo de rematamento, não necessariamente de florestas nativas, mas com sistemas agroflorestais, com integração de lavoura, pecuária e floresta. Não podemos excluir a pecuária, mas tem que fazer de forma mais densa, mais produtiva e ocupando menos espaços“, continuou o empresário

Por fim, Minev disse que nesse rematamento cabe muitas soluções diferentes e até a sojicultura em situação bem específicas, como nos campos naturais do Sul do Amazonas, onde a vegetação é baixa e não há floresta para desmatar.

Logística tem que partir para a ação

Augusto Rocha, por sua vez, concentrou seus argumentos sobre o desenvolvimento de uma bioeconomia na criação de um “estoque de infraestrutura” que permita conexões mais amplas e sustentáveis na Amazônia.

O desafio é saber que precisamos fazer um estoque de infraestrutura, mas a discussão atual é rasa, reduzida. Temos rios, mas não hidrovias. Falamos da BR-319 como se ela fosse ser a solução dos nossos problemas, mas ela é só a conexão entre duas cidade. E a conexão com o resto?”, questionou Rocha, que é professor da Universidade Federal do Amazonas.

Para Augusto Rocha, a sociedade local precisa modernizar o discurso, pois conversámos muito sobre soluções que nunca saem do papel e acabamos não fazendo nada. “Falamos e refletimos muito sobre os textos do professor Samuel (Benchimol, amazonólogo e avó de Dennis Minev), do Estevão Monteiro de Paula (ex-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), mas não saímos das mesmas pautas“, reclamou.

Augusto advertiu que devemos enfrenta uma nova seca neste ano e não se faz nada para se adiantar ao problema, deixando que a chuva faça o trabalho no tempo dela, o que demonsta que o País não tem uma estratégia para a construção da infraestrutura na Amazônia.

“Nosso desafio é fazer algo. Do jeito atual não temos como estratégia construir infraestrutura na Amazônia, nem da maneira certa e nem da maneira errada”, criticou.

Ele lembrou que na condição de integrante do Cieam participou de discussões com técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes sobre como resolver o problema de logística da região quando os rios desceram aos níveis máximos no ano passado.

Quando o DNIT mostrou os equipamentos que iam usar para dragar os rios no ano passado, eu disse que não ia resolver, pois os equipamentos eram incompatíveis com a necessidade do problema a ser enfentado. No fim foi a chuva que resolveu o problema de calado dos rios“, lembrou.

Orçamento é essencial, mas é preciso colocar a mão na massa

Outro ponto destacado pelos dois ao longo do debate é a necessidade de alocar recursos nos orçamentos da União e do Estado para as áreas sensíveis e críticas e posteriormente executar esse orçamento, sem o contingenciamento que tem sido a marca dos últimos anos.

É preciso executar o orçamento, mas na Amazônia nós sequer alocamos o recurso no orçamento”, reclamou Augusto Rocha. “Temos que fazer a nossa parte também, se pudermos como sociedade lutar para que o orçamento do Governo do Estado tenha R$ 1 bilhão em recursos para ciência e tecnologia, isso já seria o começo, já dava para começar o rematamento“, completou Dennis Minev.

“Sem os recursos, os argumentos são sempre iguais. Coloca-se a culpa no meio ambiente, mas não se enfrenta o problema ambiental“, finalizou Rocha.


Fonte: Real Time 1

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