31/05/2024 11:01
Na tarde desta terça-feira, 28/05/2024, foi realizado o X Fórum de Logística, coordenado pelo professor Augusto César, coordenador das Comissões CIEAM de Logística e a de Competitividade. O evento teve como objetivo discutir Ciência e Tecnologia para entender e enfrentar a seca de 2024, em vista do grande impacto do fenômeno no ano passado.
O fórum contou com a participação de diversos especialistas, incluindo a professora Dra. Jussara Socorro Cury Maciel, responsável pelo Boletim Hidrológico da Agência Nacional das Águas (ANA), que é amplamente reconhecido e utilizado como referência, até mesmo em publicações como o Financial Times. Dra. Jussara destacou a importância do monitoramento hidrológico constante e colaborativo, envolvendo observadores locais e diversas entidades, para fornecer dados precisos e consistentes.
O professor Dr. Naziano Pantoja Filizola Júnior, do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas, participou remotamente devido a compromissos de viagem. Ele abordou a geomorfologia e o comportamento dos leitos dos rios, complementando a análise das águas feita pela Dra. Jussara. Em seguida, o professor Dr. Francis Wagner, coordenador do curso de Meteorologia da UFAM, apresentou modelos de previsão meteorológica da região, sublinhando a necessidade de tornar os boletins mais acessíveis para o setor industrial.
Também presente no evento, a professora Dra. Fabiana Luciano Oliveira, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), especializada em engenharia de transportes e ex-diretora da Nokia, trouxe uma perspectiva prática ao traduzir os dados acadêmicos para o contexto executivo.
O fórum destacou a importância da cooperação entre academia, governo e setor privado para enfrentar os desafios das estiagens e melhorar a gestão hídrica no Amazonas. Dra. Jussara finalizou com uma apresentação detalhada da rede hidrometeorológica, enfatizando a necessidade de ampliar e manter as estações automáticas para um monitoramento eficiente e contínuo.
O encontro foi marcado por discussões enriquecedoras, com dados atualizados sobre a situação dos rios na região, destacando tanto os desafios enfrentados quanto às estratégias para mitigar os impactos das secas futuras.
Flutuações do Nível dos Rios na Amazônia refletem Impactos Climáticos e Geomorfológicos
O recente comportamento dos níveis dos rios na Amazônia, especialmente no rio Solimões e seus afluentes, demonstra um complexo equilíbrio entre fatores climáticos e geomorfológicos. Apesar de uma severa seca no rio Branco e uma enchente extraordinária no rio Acre no início deste ano, o nível dos rios em algumas regiões, como Manaus, não apresentou descida significativa. Este fenômeno pode ser explicado pela capacidade de absorção da bacia hidrográfica, que continua a regular o fluxo das águas.
Segundo especialistas, o ciclo hidrológico da região, que normalmente começa entre outubro e novembro, tem apresentado volumes de chuva abaixo do normal desde o ano passado. Isto contribui para a atual fase de tentativa de normalização dos níveis dos rios. A bacia do Solimões, por exemplo, está contribuindo de maneira diferente do usual, o que impede uma descida rápida dos níveis de água.
A geomorfologia fluvial, que estuda as formas dos rios e suas variações, também desempenha um papel crucial. As mudanças no nível de base, influenciadas pelo rio Solimões, afetam diretamente o rio Negro, demonstrando a interdependência dos sistemas fluviais na região. A capacidade de absorção de água pela geologia da bacia, a cobertura vegetal e as atividades humanas são fatores determinantes na resposta dos rios às variações climáticas.
Os dados revelam que, embora os níveis atuais estejam dentro da faixa de normalidade, ainda há um monitoramento constante para evitar surpresas como as registradas em anos anteriores. A Defesa Civil e outros órgãos continuam a divulgar informações essenciais para a população, incluindo previsões sobre cotas de alerta e inundações.
Os especialistas ressaltam a importância de compreender a geomorfologia e hidrologia dos rios para melhor prever e gerenciar esses eventos naturais. A pesquisa contínua e a análise dos dados históricos são fundamentais para adaptar as estratégias de mitigação e resposta a esses fenômenos extremos na Amazônia.
Mudanças Climáticas em Manaus
Os dados apresentados indicam que o sistema hídrico de Manaus tem mostrado uma variação significativa nos valores mínimos e máximos de água desde o início da coleta de dados. Enquanto os valores máximos permanecem relativamente estáveis, os valores mínimos apresentam mudanças abruptas, indicando um processo de mudança climática. Nos últimos anos, foram registrados nove eventos extremos na estação de Manaus, corroborando estudos que preveem intensificação de secas e aumento da variabilidade das cheias.
Transporte de Sedimentos na Bacia Amazônica
Os sedimentos móveis na bacia são transportados por processos naturais, como a gravidade e a percolação de água, dividindo a bacia em zonas de produção, transferência e deposição. A Bacia Amazônica, no entanto, não segue o modelo clássico, com zonas de deposição no meio da bacia e uma grande zona de erosão nos Andes. Estudos mostram que o transporte de sedimentos, influenciado por fatores climáticos, pode levar anos ou até décadas para mover sedimentos das montanhas para a foz do rio.
Impactos do Desenvolvimento e Agricultura
Exemplos internacionais, como o monitoramento chinês do rio Amarelo, ilustram os desafios do manejo de sedimentos. O desenvolvimento agrícola aumentou a produção de sedimentos, causando assoreamento e exigindo a construção de barragens, o que, por sua vez, gerou outras consequências ambientais.
Movimentos de Massa e Erosão
Movimentos de massa, conhecidos popularmente como "terras caídas", são frequentes na Bacia Amazônica devido ao excesso ou falta de água. Estudos detalham como esses processos ocorrem e como eles afetam a geomorfologia da região, destacando a importância de um mapa hidrogeomorfológico para identificar zonas de maior fragilidade.
Monitoramento e Tecnologias Recentes
A utilização de imagens de satélite como as do Sentinel, tem permitido monitorar o nível do rio Negro e o fluxo de sedimentos de forma mais precisa. Esse monitoramento é essencial para a criação de um laboratório internacional de pesquisa, apoiado por várias instituições, incluindo a Fundação Paulo Feitosa e o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD).
Importância do Arquipélago de Anavilhanas
O Arquipélago de Anavilhanas desempenha um papel fundamental na regulação do fluxo de água, armazenando água durante certas épocas do ano e garantindo a preservação da biodiversidade e a navegabilidade no Baixo Rio Negro.
Universidade do Estado do Amazonas desenvolve Laboratório para prever Impactos Climáticos na Região
A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) vem se destacando por suas pesquisas e ações voltadas para o monitoramento e prevenção de eventos climáticos extremos na região. Em resposta à crescente preocupação com os efeitos das mudanças climáticas, a UEA estabeleceu o Laboratório de Modelagem Climática (LABCLIM), financiado pela Agência Nacional de Águas (ANA), com o objetivo de compreender os impactos futuros das mudanças climáticas no ciclo da água da Bacia Amazônica.
Nos últimos anos, o LABCLIM tem se dedicado ao desenvolvimento de modelos matemáticos e hidrológicos capazes de simular o comportamento do clima e dos recursos hídricos na região. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e outros institutos, o laboratório tem desenvolvido modelos climáticos globais e regionais, bem como modelos hidrológicos específicos para a Bacia Amazônica.
"Nosso objetivo é gerar prognósticos precisos sobre a precipitação, nível dos rios, vazão e áreas de inundação com antecedência de até 5 meses", explica o Professor Francis Wagner, coordenador do LABCLIM. "Essas informações são fundamentais para apoiar a tomada de decisão por parte dos gestores públicos e privados, especialmente em situações de emergência, como as secas recentes que afetaram a região", acrescenta.
Além disso, o laboratório tem trabalhado na validação e publicação de seus resultados em revistas científicas de alto impacto, garantindo a qualidade e confiabilidade das informações geradas. Recentemente, o LABCLIM publicou um boletim que apresenta o diagnóstico e prognóstico do hidroclima da região, disponível para acesso público no site da UEA.
"Estamos empenhados em expandir nossas pesquisas e tornar nossos prognósticos acessíveis a um público mais amplo", destaca o professor Wagner. "Nosso objetivo é desenvolver um sistema de previsão climática regular e um aplicativo para smartphones que permita aos gestores monitorar em tempo real os principais indicadores climáticos da região", conclui.
Observatório Climático para navegação na Amazônia
A professora-doutora Fabiana Lucena trouxe à tona a necessidade de preparação para enfrentar eventos climáticos extremos que impactam diretamente as atividades sociais e econômicas na região amazônica. Com o intuito de transformar desafios em oportunidades, foi apresentada a proposta de criação de um Observatório Climático e Hidrológico para monitorar e prevenir problemas na navegação fluvial.
O Observatório proposto teria como missão emitir boletins mensais em parceria com institutos de pesquisa, fornecendo informações precisas sobre o clima e a hidrologia da região. Além disso, seria responsável por indicar a necessidade de equipamentos para monitoramento das bacias hidrográficas, desenvolver metodologias para cálculo de lead time na navegação e estabelecer matrizes de comunicação para alertar populações ribeirinhas sobre fenômenos extremos.
Para viabilizar o projeto do Observatório, Fabiana destacou a importância do aporte de recursos compartilhados entre as empresas, visando a aquisição de equipamentos e a capacitação de pessoal. A proposta recebeu apoio dos presentes, que reconheceram a importância de uma abordagem colaborativa para enfrentar os desafios climáticos na região.
A questão da seca iminente, descrita como "forte" pelos especialistas, levanta preocupações sobre a capacidade das empresas e do governo de lidar eficazmente com os desafios climáticos. Apesar do conhecimento disponível e das previsões feitas pelos especialistas, a falta de ação coordenada pode levar a consequências adversas para a economia e a sociedade da região.
A necessidade de uma abordagem colaborativa entre academia, indústria e governo é destacada como fundamental para enfrentar os desafios climáticos na região amazônica. A aplicação prática do conhecimento científico e a tomada de decisões informadas são essenciais para mitigar os impactos das secas e outros eventos climáticos extremos.
A gravação completa da reunião está disponível na área restrita do associado. Acesse com login e senha. Caso ainda não tenha se cadastrado, clique aqui e entre em contato com o Suporte (informacoes@cieam.org.br).