11/07/2018
Por Alfredo Lopes
Há uma preocupação estrutural, no centro das
prioridades da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) com relação ao fim do emprego, um anúncio
fúnebre, aparentemente catastrófico, que as autoridades
utilizam para chamar a atenção da sociedade, e
especialmente dos atores do setor produtivo e do poder
público.
Estamos todos, na verdade, atarantados com a
velocidade das mudanças, com o avanço tecnológico,
responsáveis por zerar mão de obra, substituir o braço
humano pela eficiência da impressora 3D, que recria o mundo e agita as consciências imutáveis. A economia
digital associada à robótica – duas realidades dos
tempos modernos absolutamente irreversíveis –
desencadearam o desemprego em massa no modelo
clássico de produção industrial. A questão que se coloca
é: como utilizar esses instrumentos para criar novas
saídas?
O profeta José Márcio Mendonça, jornalista visionário
que nos deixou recentemente, alertava para o problema
sugerindo que essas mudanças na economia sempre
escondem oportunidades, nosso dever e desafio é
identificá-las. A própria tecnologia cria novas brechas
de emprego, ou seja, uns são destruídos outros
aparecem. Portanto, a primeira saída é retreinar a mão
de obra para essas novas realidades, novas
oportunidades.
Porém, sabe-se que o número de empregos a serem
criados nunca será o mesmo que existia até então.
“Nunca mais este Polo Industrial de Manaus vai gerar
120 mil empregos que existiam antes da recessão.”, diz
Augusto Rocha, líder empresarial e professor
universitário de engenharia de produção e
bioprospecção, recomendando a diversificação criativa
das oportunidades com o manejo sustentável dos
produtos çorestais e minerais da Amazônia.
A tendência da civilização é o ideal grego do ócio, o que
os italianos chamam de “dolce fare niente”, no sentido
de fazer a tecnologia trabalhar a nosso favor. A doçura
de uma vida à toa, Enquanto decresce ano a ano a
indústria de transformação a de serviços próspera. Na
Amazônia, talvez, tenhamos a última fronteira
naturalmente, que convém a este ser criativo.
Assim, é preciso também descobrir “novas” atividades, e
um dos grandes negócios pode estar na chamada
economia criativa, no desenvolvimento da
biotecnologia, ou na tecnologia da informação e da
comunicação, no caso aqui da Amazônia, com esse
acerto monumental de floresta e genética, a busca de
novos fármacos, da dermocosmética e da indústria
nutracêutica, a partir da biodiversidade. Aqui, quem
prestar atenção, vai descobrir as trilhas de uma nova
economia.
A biodiversidade amazônica é muito mais rica, em sua
fauna e flora, que a coreana. É preciso envolver num
grande projeto o setor privado, a universidade e o poder
público. É inaceitável que o Brasil tenha menos de 1%
de seus cientistas atuando na Amazônia, onde o
mundo civilizado está de olho desde a descoberta da
América. Os países centrais já teriam posto milhares de
cientistas e laboratórios para planejar e implantar um
futuro mais saudável e mais próspero.
Perdulários e desprovidos de visão de futuro, nossos
governantes queimam recursos públicos para os quais
nada fazem no desafio de gerar riqueza. Aonde foram
parar os R$2,4 bilhões recolhidos pelas empresas de
Informática entre 2012 e 2016? É provável que sequer os
órgãos de controle sejam capazes de arriscar um palpite
a respeito?
No mesmo período, o Governo da Coreia investiu U$2 bilhões para atrair empresas privadas, em P&D, pesquisa e desenvolvimento, de nove áreas da economia voltadas ao futuro, priorizando inteligência artificial, realidade virtual, materiais leves, utilização do carbono, biotecnologia voltada para Medicina, entre outros. Quem vai colher frutos robustos e quem vai continuar reclamando que viramos um país que só sabe gerar riquezas com as commodities da Agricultura?