15/06/2018
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
Apesar da artilharia pesada do Banco Central (BC) para conter a alta do dólar, a moeda americana voltou na quinta-feira (14) para a casa dos R$ 3,80. O BC chegou a vender US$ 5 bilhões no mercado futuro - volume recorde de recursos para um único dia -, mas a intervenção não foi suficiente para segurar a cotação do dólar.
A pressão do cenário externo acabou forçando o BC a anunciar a oferta de mais US$ 10
bilhões na semana que vem. O avanço do dólar no dia seguinte ao sinal do banco central
americano de que deve subir os juros quatro vezes neste ano já era esperado, mas foi
potencializado pelas notícias sobre a guerra comercial entre China e EUA.
O governo Donald Trump vai impor, nesta sexta-feira (15) tarifas para a entrada de produtos
chineses que podem chegar a US$ 50 bilhões. O anúncio de que o Banco Central Europeu vai
encerrar seu programa de compras de títulos no fim do ano também afetou o mercado de
câmbio.
A perspectiva de que os juros devem subir mais nos Estados Unidos faz com que investidores
realoquem recursos em busca do retorno oferecido pela moeda da maior economia do
mundo. Como consequência, todas as demais perdem valor. Moedas emergentes sofrem
ainda mais porque muitas economias têm fragilidades por questões políticas ou problemas
fiscais.
Pressão e eleições
O dólar mais forte pode provocar uma pressão inflacionária no País, uma vez que muitos
insumos são cotados na moeda americana. A trajetória de alta da inflação pode levar o Banco
Central a antecipar um aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic - possibilidade
que já começa a entrar no radar de analistas.
No Brasil, a principal preocupação é a eleição. O temor dos investidores é que um candidato
não reformista seja eleito - o que afasta a perspectiva de mudanças estruturais defendidas
pelos economistas. Para tentar amenizar o enfraquecimento do real, o BC tem agido
fortemente.
O órgão tem ofertado contratos de swap cambial - que funcionam como uma venda futura de
dólar. Há uma semana, o BC informou que colocaria no sistema US$ 20 bilhões em
contratos novos de swap, para além da oferta diária de US$ 750 milhões. Com isso, até hoje,
o montante total dos leilões chegaria a US$ 24,5 bilhões.
De lá para cá, foram vendidos US$ 17,75 bilhões em contratos de swap. Só na quinta-feira,
foram US$ 5 bilhões. Desde 2002, quando o BC começou a usar esse instrumento, nunca
haviam sido ofertados tantos contratos: foram 100 mil em três leilões ao longo do dia.
Mesmo assim, o dólar subiu mais de 2%.
No início da noite, o BC anunciou que seguirá com a oferta desses contratos para amenizar a
volatilidade e oferecer liquidez ao mercado. Em nota, a instituição informou que "estima
oferecer montante em torno de US$ 10 bilhões" na próxima semana. O valor citado é menos
da metade dos US$ 24,5 bilhões prometidos para a semana que termina nesta sexta-feira.
O BC nota, contudo, disse que o valor "poderá ser ajustado para cima ou para baixo,
dependendo do mercado".
Efeito Fed
O aperto nos juros dos EUA fez com que moedas em todo o mundo perdessem valor.
Levantamento do jornal O Estado de São Paulo e do Broadcast (serviço de notícias em tempo
real do Grupo Estado) mostrou que todas as 47 moedas cotadas perderam valor.
Até as consideradas "porto seguro", como dos países nórdicos, caíram. Na Argentina, a
pressão dos investidores foi ainda mais forte e derrubou, além da moeda (queda de 6,54%), o
presidente do BC.
Na quinta-feira, o peso argentino foi a divisa que mais perdeu valor em relação à americana
e já são necessários 27,70 pesos para comprar um único dólar. No início da noite, o jornal La
Nación informou a queda do presidente do BC argentino, Federico Sturzenegger. Luis
Caputo, que ocupava o Ministério de Finanças, será o substituto.
A queda de Sturzenegger e o derretimento do peso aconteceram mesmo após o anúncio da equipe econômica do presidente Maurício Macri de que serão oferecidos US$ 7,5 bilhões nos próximos dias para tentar amenizar a fraqueza do peso. O dinheiro virá do acordo de US$ 50 bilhões do país vizinho com o Fundo Monetário Internacional (FMI).