09/02/2018
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A esperada elevação da importação
deverá deixar para trás o período de
pequenos déficits comerciais na indústria
da transformação. O saldo negativo no
ano passado foi de US$ 3,21 bilhões,
pouco superior ao déficit de US$ 2,43
bilhões de 2016. Com os aumentos dos
desembarques, porém, a expectativa é
que o saldo fique negativo em US$ 20
bilhões este ano.
Os cálculos são do Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e levam em consideração que os
desembarques ainda têm muito a avançar. O déficit do ano passado resultou
de exportações de US$ 133,04 bilhões e de importações de US$ 136,25
bilhões. Os desembarques da indústria de transformação cresceram 9,7% no
ano passado em relação a 2016. Foi a primeira alta dos últimos quatro anos.
Desde 2013, o valor desembarcado em bens industriais no país caiu 33,8%.
A alta do ano passado, afirma Rafael Cagnin, economista do Iedi, indica uma
recuperação das importações baseada na retomada da economia. Ele ressalta,
porém, que o avanço vem em cima de uma base muito baixa. Mesmo com o
crescimento de 2017, o valor importado no ano passado excluindose 2016
foi o menor desde 2010, quando o setor comprou US$ 159,4 bilhões do
exterior.
Neste ano, o que se espera é um dinamismo maior das importações de bens
industriais, diz Cagnin. "A conjunção de fatores positivos para o saldo da
balança da indústria de transformação não deve se manter. Se o dinamismo
da economia se mantiver, com alguma melhora após as eleições, é provável
que o déficit saia da casa dos US$ 3 bilhões para algo em torno de US$ 20
bilhões."
Ao mesmo tempo em que a indústria brasileira não tem condições de
alavancar as exportações e aumentar a inserção no mercado internacional
num ritmo muito maior no curto prazo, as importações devem ter uma
reação em praticamente todos os ramos industriais, avalia Cagnin. O avanço
deve ser puxado pela importação de bens que representam os intermediários,
como plásticos, borrachas, produtos metálicos e componentes
eletroeletrônicos.
A perspectiva das empresas para produção e consumo de insumos
importados vai nesse caminho. Na Metalplan, fabricante de bens de capital, a
expectativa é que as receitas avancem em ritmo parecido, ou superior, ao do
ano passado, quando a empresa teve alta de 15% em relação a 2016, segundo
Edgard Dutra, diretor da empresa. A importação de insumos deve
acompanhar ritmo parecido, ou até maior. Os componentes de fora precisam
ser comprados antecipadamente e em quantidade, explica ele.
Produtos de linhas novas tendem a ter parcela maior de componentes importados: em torno de 40% contra uma média de 25% do total de máquinas produzidas pela empresa. "No caso de componentes importados, há sempre o receio de estocar demais e morrer afogado, ou de ser muito tímido e não ter como atender o mercado por falta de insumos", afirma o empresário.
A expectativa para o crescimento, diz Dutra, está baseada principalmente na
recuperação do mercado doméstico, que parece iniciar o ano melhor do que
janeiro de 2017. Ele pondera, porém, que existe ainda um parque de
máquinas usadas sobrando no mercado e que o retorno da atividade deverá
mostrar também que nem toda a produção voltará.
Há, ainda, o receio do quadro político, com eleições que podem causar novo
impasse na decisão das empresas de investir. "O ano de 2018 será
complicado e dependerá do que acontecer na área política e da reação de
mercados. A atuação dos que querem especular tornam o trabalho uma
montanha russa", avalia Dutra.
O que joga a favor, diz o diretor da
Metalplan, é a vida útil de alguns tipos de
máquinas que precisam ser mantidas em
operação, mesmo quando há alta
capacidade ociosa. Por isso, conta, é
difícil traçar uma meta real, apesar de
uma expectativa de alta de produção
relativamente importante.
A expectativa para 2018, avalia Cagnin, é que a retomada do mercado interno
eleve a demanda não somente da indústria doméstica de bens de capital
como também pela importação de máquinas e equipamentos. Mas ele
também aponta incerteza em relação às eleições e à condução de medidas
fiscais. "Se o ano não vier pontuado de muita volatilidade, o que se espera é
que parte dos investimentos seja recomposta, não pela expansão de
produção, mas ainda pela proteção de competitividade e elevação de
produtividade."
João Carlos Visetti, diretorexecutivo da Trumpf, importadora de máquinas,
faz diagnóstico semelhante. Ele espera crescimento de faturamento de 20%
nos 12 meses encerrados em junho deste ano, na comparação com os 12
meses anteriores, puxado por pedidos da indústria automobilística, de
transportes e implementos agrícolas. Nos 12 meses terminados em junho de
2017 o executivo usa a métrica do ano fiscal da matriz alemã a receita
cresceu 50%.
Mesmo com o avanço, incluindo a expectativa do resultado até o fim do
primeiro semestre, diz Visetti, o faturamento da empresa no Brasil ainda
estará cerca de 15% abaixo do período précrise.
"Continuamos vendo um crescimento significativo na compra de máquinas e
a tendência é que isso se mantenha até abril e maio. O que a acontece depois
disso vai depender de medidas importantes, como a reforma previdenciária",
explica. "Apesar da melhora, os clientes ainda continuam substituindo
equipamentos e modernizando produção e não se vê aumento de
capacidade."
Uma reforma previdenciária, avalia ele, deve ter impacto no nível de
confiança das empresas, porque significaria que o governo terá recursos para
investir. "Se houver confiança, as empresas já passarão a retomar projetos e
se preparar para o ano que vem. Isso é fundamental para sustentar o
crescimento dos investimentos."
Paulo Castelo Branco, presidente da Abimei, entidade que representa os
importadores de máquinas, espera para 2018 a primeira alta na importação
de bens de capital depois de quedas sucessivas desde 2014. A expectativa é de
crescimento de 10%. O que se espera, diz, é a continuidade do crescimento
das compras externas de máquinas iniciado no segundo semestre de 2017.
A subida deste ano, destaca ele, é o início de recuperação de um longo
período de perdas. No ano passado, apesar dos primeiros avanços no
desembarque de bens de capital desde agosto, houve queda de 12,1% no
acumulado de 2017 contra o ano anterior. De 2013 até o ano passado a queda
acumulada foi de 50,6%.
Nos pedidos encaminhados para o setor este ano, diz ele, há ainda
predominância para manutenção da produção, mas o desengavetamento de novos projetos já começou a ser discutido pelas empresas, principalmente
nas áreas automobilística e de linha branca.
O primeiro mês do ano já confirma a expectativa de elevação das compras do exterior. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, as importações iniciaram janeiro com alta de 16,4% em relação a igual período de 2017, em ritmo maior que o avanço de 13,8% nas exportações. A alta foi generalizada. As compras de bens de capital do exterior cresceram 11,4%.