10/01/2018
Notícia publicada pelo site Diário Comércio, Indústria e Serviços
A quantidade de visões existentes sobre como utilizaremos as tecnologias da Indústria 4.0 é bastante diversa. É certo que não existe um caminho único e certeiro que garanta o sucesso de toda e qualquer iniciativa.
A convivência das áreas de Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologias Operacionais (TO), obrigatória na era da Indústria 4.0, por si só já é um desafio: conceito e culturas são, na maior parte dos casos, divergentes.
Fábulas ajudam a compreender contextos amplos e têm o poder de permanecer vivas na nossa memória, ajudando na percepção de conceitos e também de problemas.
Mas quantas maçãs precisam cair?
Uma das expectativas da Indústria 4.0 se apoia na capacidade de armazenar quantidades imensas de dados e inferir resultados a partir da sua análise. Dentre as utilizações, a mais colocada é a manutenção preditiva.
A premissa correta é que equipamentos de produção seriada tenham comportamento semelhante. Com o barateamento da infraestrutura, a coleta de informações sobre o funcionamento desses equipamentos permite a utilização de Big Data e Analytics, levando o conceito de manutenção preditiva ao seu nirvana.
O sucesso como um todo dependerá de estabelecer correlações coerentes, de criar um modelo que irá fazer inferências corretas e tornar a análise realmente útil.
Parte desta montagem é conhecimento tecnológico que será provido pela área de TI; parte é conhecimento do processo produtivo e será provido pela área de TO.
Reza a lenda que analisar a queda de uma única maçã foi suficiente para um insight que levou à teoria da gravidade. A pergunta correta é que fez a diferença. Garanta que o Isaac faça parte da sua equipe.
Suponha que há uma indústria em que trabalhem os personagens Bond e MacGyver, onde existe um motor caríssimo. Se ele parasse, toda a produção seria interrompida, mas vinte anos se passaram funcionando sem maiores problemas.
Um belo dia, o diretor é informado: “A produção parou!”. O engenheiro responsável afirma: “Faz oito anos que eu peço a troca do motor. Todo ano coloco na previsão de investimento e a diretoria nega, era previsto que iria acontecer”.
No final, MacGyver sendo MacGyver: “Vou tentar resolver”. Após horas de trabalho, volta orgulhoso à sala do diretor: “Consegui, com a ajuda do meu canivete e de um alfinete. Está tudo resolvido, a produção voltou”.
Pouco depois, o diretor percebe que o seu computador travou. O engenheiro responsável diz: “Temos um plano de renovação anual de equipamentos que não foi cumprido este ano. Nossa última atualização não foi realizada. Sem as ferramentas adequadas não tenho condições de analisar o problema. Nossa equipe de suporte está sobrecarregada”.
No final, Bond sendo Bond: “OK, é para eu resolver? Sou o responsável? Tenho carta branca?”. Com a concordância obtida e os recursos liberados, ele resolve tudo.
Bond, da TI, continua na empresa e vai ganhar aumento de bônus; MacGyver, de TO, está prestes a ser demitido e não vai entender o porquê. O diretor achou um absurdo ele ter passado oito anos pedido investimento milionário para um problema que foi resolvido com um alfinete.
O alfinete continua lá.
Hilton Marinho é diretor associado para indústria da RSI Redes