02/01/2018
Notícia publicada pela Agência Reuters
As oscilações na cotação do dólar devem voltar a
preocupar este ano. As incertezas políticas, a alta dos juros nos
Estados Unidos, a queda das taxas aqui, dúvidas sobre a reforma da
Previdência, a possibilidade de rebaixamento de nota de crédito do
Brasil e, principalmente, a disputa eleitoral devem influenciar a
cotação da divisa. As cerca de cem instituições financeiras ouvidas
pela Banco Central esperam que o dólar termine o ano cotado a R$
3,30. Especialistas, entretanto, acreditam que a barreira dos R$ 4 seja
quebrada durante a disputa presidencial. A incerteza é tanta que se a surpresa. O único consenso é de turbulência pela frente.
A certeza é que a cotação não deve refletir os fundamentos da economia —
que estão melhores — mas o estresse do mercado financeiro com o cenário
eleitoral. Algumas corretoras ouvidas pelo GLOBO já pensam em indicar o
dólar como uma aplicação interessante em 2018. Enquanto isso, os técnicos
do governo ficaram mais apreensivos. Um forte efeito sobre o dólar já faz
parte dos cenários alternativos nos bastidores, principalmente se a reforma
da Previdência não avançar:
— Acho que tanto os riscos eleitorais e fiscais vão aumentar os prêmios de
risco e bater nos ativos, incluindo o dólar. Sem a perspectiva de que vai
haver alguma reforma da Previdência, o buraco é imenso. O que nos salva é a
perspectiva de reformas e, se isso deixar de existir, não será bonito — previu
uma fonte da equipe econômica, que ainda projeta que a turbulência pode
afetar a vida de quem planeja passar férias no exterior.
Cenário mais incerto
Um dos maiores nomes do mercado no assunto alerta que o cenário pode ser
ainda pior que na campanha de 2002, quando a moeda americana disparava
a cada avanço do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.
Naquela época, lembra Sidnei Nêhme, economista-chefe da corretora NGO,
o Brasil conseguia poupar para abater juros da dívida e as contas da
Previdência não estavam tão pressionadas como agora. Segundo ele, essa é a
grande diferença.
— Não é só uma questão de Lula e Bolsonaro (Jair Bolsonaro, do PSC-RJ).
Ele argumenta que está claro que o governo não tem base de apoio. E isso é
sinônimo de um ano difícil e estressado no qual as questões políticas devem
se sobrepor às econômicas. Outro ponto que pode aumentar a incerteza é a
candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Nêhme projeta
muita turbulência na disputa dentro do próprio governo se isso ocorrer:
— Não vamos ter um ano tranquilo. Tem muita incerteza no horizonte.
A economia está melhorando, mas pode não ser sustentável.
Para o economista da Icap Ítalo Abucater, 2018 deve repetir o ano da
reeleição da presidente Dilma Rousseff: com câmbio que responde aos
rumos indicados pelas pesquisas eleitorais.
— Os candidatos que sobraram são péssimos e Meirelles, que seria o
preferido do mercado, não tem apoio dentro do próprio governo. O
cenário político é horroroso — frisou o analista, que espera um ano de
rali com o dólar e operadores da Bolsa estressados: — O cassino do mercado
financeiro estará a todo vapor.
Perfeito. Ele lembra que a economia tem crescido com mais força do que o
estimado anteriormente e que uma alta do dólar terá impacto nos preços.
Atualmente, esse é o menor problema da equipe econômica, porque o Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 2,8%. A
meta era de 4,5% com um limite mínimo de 3%. E o Banco Central, no seu
relatório de inflação, espera que o IPCA fique abaixo da meta até 2020, pelo
menos. No entanto, a volta do aumento de preços deve complicar ainda mais
o cenário político num ano eleitoral.
— É eleição. Só isso já teria um aumento natural do câmbio, mas o cenário
político conturbado deve ter um peso maior — disse Perfeito.
O economista acredita que o dólar vai subir a R$ 3,60:
— Ainda há fluxo para cá, mas não me surpreenderia se fosse para R$
4 ou mais porque os juros nos Estados Unidos devem subir mais.
Como eu acho que a variável de ajuste vão ser os juros de longo prazo,
o diferencial deve continuar favorável pra cá (permitindo a entrada de
dólares no país) — disse o economista ao lembrar que a perspectiva é
de uma nova alta de juros no ano que vem também no Brasil.
Discursos menos radicais
Mais otimista que os colegas, a economista-chefe da XP
Investimentos, Zeina Latif, acha que a campanha não deve trazer tantos
problemas como o previsto pelos demais analistas. Ela analisa caso a caso.
Diz que o ex-presidente Lula já ensaia um discurso “paz e amor” e que o
deputado Jair Bolsonaro tenta adotar tom liberal.
— O problema é que as pessoas acham que o Brasil é um país tão diferente
que precisa de políticas criativas. E ignora o manual de políticas bemsucedidas
— resumiu a economista em um debate em Brasília.