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Alta da Selic é criticada por lideranças no Amazonas

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05/08/2021

Marco Dassori

Como já antecipado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) vitaminou a Selic em um ponto percentual, na reunião desta quarta (4), elevando a taxa de 4,25% para 5,25% ao ano. Foi o quarto aperto na política monetária seguido, com um reajuste mais forte do que os anteriores, que não passaram de 0,75 ponto percentual. A expectativa ainda é de novas elevações, desestimulando a atividade econômica. Lideranças classistas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio avaliam que o BC tomou uma decisão “equivocada” para um problema “grave”.

A nova alta nos juros básicos da economia se deu em meio à escalada da inflação de alimentos, combustíveis e energia – sendo estes últimos, resultantes de preços controlados pelo governo federal. Os economistas do mercado financeiro já projetam inflação de 6,79% para 2021, conforme o Relatório de Mercado Focus desta semana. O valor está bem acima do teto da meta de inflação (5,25%), o que tem pressionado o BC a elevar os juros.

O câmbio também foi um fator levado em conta para o reajuste, apesar de seus efeitos indiretos e de longo prazo na inflação. Juros mais altos no Brasil atraem capitais externos e conseguem segurar o dólar, mesmo com a ameaça de retirada de estímulos nos Estados Unidos, que produz efeito contrário. A expectativa em torno da reunião do Copom produziu um ziguezague na cotação do dólar, que encerrou o dia a R$ 5,18, com queda de 0,13% – depois de chegar ao pico de R$ 5,24, no início da tarde.

“Balanço de riscos”

Em seu comunicado, o Copom ressaltou que o cenário atual indica ser apropriado um ciclo de elevação da juros para patamar acima do neutro. A alta refletiria “um balanço de riscos” de “variância maior do que a usual” para a inflação de médio e longo prazos, sendo compatível com a convergência para as metas de 2022 e, “em grau menor”, de 2023. O aumento da Selic também refletiria a percepção do Banco Central de que a piora recente em “componentes inerciais” dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma “deterioração adicional” das expectativas de inflação.

“O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, justificou o texto do documento emitido pela autoridade monetária brasileira.

Com a decisão desta quarta (4), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.

“Forte desestímulo”

O presidente da Fieam, Antonio Silva, entendeu que a decisão do Copom de situar a taxa básica de juros no maior patamar desde 2019foi “precipitada”. Para o dirigente, a decisão correta a ser tomada pelo governo federal, no atual momento de retomada econômica, seria estimular as condições de crédito. Mas, segundo o industrial, o aumento da Selic em patamar tão elevado vai na contramão, ao desestimular a demanda e aumentar o custo do financiamento “de maneira significativa”.

“É notório que a inflação se encontra elevada. Entretanto, essa pressão decorre, essencialmente, do descompasso entre demanda e oferta, instabilidade no fornecimento de insumos e variação cambial. À medida em que esses fatores se estabilizem, as pressões sobre os custos devem ser abrandadas, de sorte que decisão do governo finda por ser um forte desestímulo à atividade produtiva”, lamentou.

O presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento Junior, foi na mesma direção, ao assinalar que o encarecimento do dinheiro tem potencial para comprometer o gradual processo de retomada econômico brasileiro. “Não é o momento para esse aumento. A economia ainda está em recuperação e a Selic baixa colabora com o ambiente de negócios”, justificou.

“Especulação financeira”

Mais enfático, o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, salientou que a decisão do Copom vai na direção contrária das necessidades do país, ao incentivar a “especulação financeira” em detrimento do crescimento econômico. No entendimento do dirigente, ao tentar atrair capital estrangeiro dessa forma, o BC acaba comprometendo o crescimento de longo prazo.

“Continuo dizendo que o governo está fazendo a coisa errada. Estão comprometendo os investimentos para favorecer a especulação. Não tem outra colocação. Não temos respaldo na economia para essa decisão, quando já nos aproximamos dos 15 milhões de desempregados em todo o país. Precisamos de aportes produtivos para gerar emprego e renda. Seria melhor tomar medidas para gerar investimentos internos, do que tentar, por meios artificiais, atrair capitais especulativos”, desabafou.

“Mercado demandante”

O presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, disse que o aumento já era esperado, em virtude da alta da inflação, mas destacou que a escalada da Selic foi mais rápida – e indesejável. “Quanto maior a taxa, toda a tributação da cadeia sobe, e o financiamento sobe. A construção vive de prazos dilatados e o comprador acaba ficando com medo de investir. Mas, esperamos por um equilibro, de forma que a gente tenha uma previsibilidade maior de preços e taxas financeiras”, comentou.

Já o diretor da Comissão da Indústria Imobiliária da Ademi-AM, Henrique Medina, assinalou que o aumento da Selic já era aguardado pelo mercado imobiliário e já estava devidamente precificado pelas empresas, uma vez que a expectativa já é que a taxa encerre o ano em 7%. No entendimento do dirigente, contudo, da forma como os bancos operam com os financiamentos imobiliários, as vendas não devem ser afetadas e porque o mercado segue “demandante”.

“A Caixa Econômica, por exemplo, trabalha com linhas de financiamento em que a remuneração vem de uma parte fixa e outra variável e vinculada pela Selic, mas há um teto para isso. Não vamos ter queda nenhuma no mercado porque as condições ainda são muito favoráveis e temos margem para continuar crescendo. O que mais me preocupa mesmo é a inflação e desabastecimento de insumos para a construção civil, que já está inviabilizando algumas obras. Mas, o aumento da Selic deve ajudar a melhorar esse cenário”, concluiu.

Fonte: JCAM

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