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Polo Industrial de Manaus revisita a Embrapa Amazônia Ocidental

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03/07/2020 10:20

(*) por Alfredo Lopes

Na busca de viabilizar novas modelagens econômicas, em clima de renovação por mais cinquenta anos do Programa Zona Franca de Manaus, em 2014, os conselheiros desta Coluna Follow-Up, José Alberto Costa Machado, Ronaldo Mota e Alfredo Lopes, depois de buscar a UEA, Universidade do Estado do Amazonas, para aproximar academia e economia, através do resgate do Conselho Gestor dos recursos pagos pela indústria da Zona Franca de Manaus, fomos atrás da Embrapa Amazônia Ocidental, uma empresa de bio e agronegócios criada nos anos 70, para dar respostas às demandas locais de alimentos, fármacos e outros insumos regionais capazes de movimentar novos polos industriais a partir da biodiversidade. A receptividade não poderia ser mais gratificante. Todos os pesquisadores da Embrapa se fizeram presente e não esconderam a satisfação de acolher emissários do PIM - Polo Industrial de Manaus para juntar pesquisas, a partir de demandas da indústria, e desenvolver soluções para empinar, enfim, o polo de Biotecnologia, representado no imaginário de todos como o CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia.

Impulsão da segurança alimentar

E o que tinha a nos oferecer a Embrapa Amazônia Ocidental, um braço amazônico de uma empresa que Bill e Melinda Gates contrataram para desenvolver o super-feijão que se destinou com sucesso à redução da fome no Continente Africano? Tudo e o que mais precisássemos nas especialidades de pesquisas que a economia demandava. Afinal, a Embrapa está presente em 23 países, compartilhando tecnologias. Segurança Alimentar a partir da piscicultura, suinocultura, ração, tecnologia e engenharia genética para controle e impulsão da criação de várias espécies de peixe em cativeiro. Ou seja, em 05 anos de parceria com essa morena, a indústria não iria precisar importar 80% da dieta alimentar de seus 120 mil colaboradores, nem bioinsumos ou resinas para suas operações.

Pecuária e sustentabilidade

Ainda no setor agropecuário, tivemos uma aula de “recuperação de pastagens degradada por meio do sistema de integração Lavoura Pecuária e Floresta (iLPF)”, na qual aprendemos o que significa fazer pecuária sem devastar a floresta. Um sistema com inovação tecnológica de primeiro mundo, seus benefícios, aspectos agronômicos, financeiro e ambiental. No Sistema a pecuária atua em conjunto com o reflorestamento com mogno, castanheira e andirobeira, nossas espécies com elevado teor comercial. A castanheira (Bertholletia excelsa) tem em seu portfólio amazônico o plantio de 1,5 milhão da espécie plantados no município de Itacoatiara, Fazenda Aruanã, da família Vergueiro, um projeto multiuso dessa espécie, com aproveitamento dos frutos, da madeira e dos resíduos para indústria dermocosmética. No Distrito Agropecuário da Suframa, para onde se destinavam, prioritariamente, essas pesquisas, os lotes em sua maioria se tornaram clubes de lazer camuflados de sítios e granjas que deveriam produzir alimentos.

Cupuaçu, cupulate e guaraná

A Embrapa Amazônia Ocidental permanece evoluindo em suas conquistas a despeito da timidez de investimentos. Foi assim que consolidou o cultivo extensivo de cupuaçu, até então vítima de um fungo que inviabilizava a produção em escala, tanto para polpa como para produção industrial de cupulate, um chocolate com alto teor energético e nutricional. Na mesma pegada, a engenharia genética associada a nanotecnologia desenvolveu o superconcentrados de guaraná, um cultivar que foi capaz de resgatar a liderança nacional do guaraná do Amazonas, e uma solução revolucionária para as fábricas de refrigerantes e sucos do Baixo Amazonas.

Cultivo extensivo seringueiras

O mais paradoxal foi a notícia de que já estava testada e aprovada a tecnologia de plantio racional de seringueiras, a lendária Hévea brasiliensis, que permitiu a Amazônia comparecer com 45% do PIB do Brasil por três décadas. Ou seja, 100 anos do derretimento do Ciclo da Borracha, conseguimos plantar a seringueira sem o mal das folhas e com uma produtividade três vezes maior que o extrativismo desumano do Século XIX. Pois bem, com todas as fábricas do Polo de Duas Rodas existentes em Manaus temos (ou tínhamos?) que importar de outros estados o precioso látex para a produção de pneus. Infelizmente, ainda não temos uma política de fomento para impulsionar essa atividade.

Os clones do Alto Juruá

No final deste emblemático encontro, indagamos se a Embrapa aceitaria fazer funcionar o Polo de Biotecnologia com a dinamização empresarial do CBA e seus 20 laboratórios de bioprospecção de novos negócios. Eles, os pesquisadores, incluindo os chefes setoriais e geral, já sabiam de nossa expectativa. E se revelaram prontos para a empreitada. Afinal, fazer rodar bionegócios é a especialidade deles. Lamentavelmente, a memorável reunião foi politizada no âmbito federal no jeito ruim do conceito e sabe o que aconteceu: Nada! Anos depois, em 2017, com outros emissários, fomos a São Carlos, o Vale do Silício tropical. Ali, a Embrapa Instrumentação produz tecnologia para o Agronegócios e para Bioeconomia. Drones, filtros, controles na aplicação de defensivos entre outras maravilhas do gênio humano. No final, fomos apresentados ao Laboratório de Nanobiotecnologia, que custara U$$ 1 milhão, mas vendia serviços cuja renda permitia cobrir as despesas operacionais e de pessoal da unidade. A partir de mudas importadas do Alto Juruá, Amazonas, eles conseguiam configurar novos clones para atender os protocolos de seus clientes, a indústria de pneus, preservativos e instrumentos hospitalares. Naquele ano, somando cinco anos de recursos de P&D pagos pela indústria, Manaus teria recolhido o equivalente a R$ 2,5 bilhões, quase U$ 1 bilhão para os cofres federais. Segundo dados da Suframa, foram repassados para pesquisa no Amazonas, em 2015, menos que R$ 2 milhões. A contribuição da ZFM, teoricamente, teria ido para o FNDCT, o fundo federal de Ciência e Tecnologia. Teoricamente.

Boa Notícia

A Embrapa nacional, uma de nossos maiores legados da Ciência para a sociedade mundial, está finalizando um Programa ambicioso de Bioeconomia, capaz de transformar as vocações de negócios sustentáveis de nossa Biodiversidade uma ponte para o futuro da prosperidade nacional cuja plataforma de expansão se chama Amazônia, 20% do banco genético da Terra.

(*) Alfredo Lopes é consultor da indústria e editor-geral do portal https://brasilamazoniaagora.com.br

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