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‘Precisamos sair da condição de refém de Brasília’, entrevista com Wilson Périco

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10/08/2018

Entrevista publicada pelo JCAM

O Jornal do Commercio em parceria com a Amazon Play TV Digital entrevistou o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, para falar sobre os 39 anos de atividades da entidade no Estado. Durante a entrevista, Périco falou sobre o modelo ZFM (Zona Franca de Manaus) e fez um balanço sobre as atividades da instituição. O PIM (Polo Industrial de Manaus) também entrou em pauta. A entidade representa as indústrias do Polo Industrial de Manaus e é uma das principais defensoras do sistema econômico do Amazonas.

JC - Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, como está o Polo Industrial de Manaus?

Wilson Périco - Sofremos constantes ataques, com muita frequencia somos atacados pela imprensa, por outros interesses do Sul e Sudeste contra o modelo Zona Franca, onde se usam falácias, falam da renúncia fiscal, é verdade, a nossa renúncia existe, ela está abrigada pela Constituição Federal, só que dos 27 entes federativos, apenas 8, incluindo o Amazonas, devolvem à União valores em arrecadação de impostos, valores esses que superam os repasses compulsórios que todos os Estados recebem. E são todos Estados onde existe algum tipo de incentivo à política industrial. O que falta é uma política de desenvolvimento para os demais Estados. Outra coisa que afirmam é que a ZFM tira a competitividade da indústria brasileira. Ora, o Brasil tem 335 mil empresas, o Estado do Amazonas, tem 3.300 que equivale a 0,06%. Incentivadas pelo modelo, 430. Se em 50 anos de modelo não temos nem 0,5% das indústrias do país, onde que nós oferecemos esse desequilíbrio, onde causamos o mal de competitividade a essas indústrias?

JC - Entre os problemas enfrentados pelo PIM, a falta de recapeamento nas vias do Distrito Industrial é um dos que mais incomoda. Na sua avaliação de quem é a responsabilidade?

Wilson Périco - As ruas estão intrafegáveis e ninguém quer cuidar. Isso foi decidido há dez anos se for entrar no que todo mundo fala. Eu tive uma discussão pública porque se remontou àquele convênio que a Suframa tinha assinado com o Cieam lá atrás pra voltar a essa discussão. O convênio foi de R$ 43 milhões, esse dinheiro foi todo devolvido. Passado três anos fizeram outro convênio para a mesma atividade no valor de R$ 130 milhões e nada aconteceu. Esse convênio foi feito com a prefeitura que repassou para o Estado, nada aconteceu, fizeram outro convênio, aí ficaram nessa discussão há dois anos. O dinheiro tinha sido rubricado pra cá, só que não apresentaram os projetos. Isso há oito meses e vai protelando. Aí vem o programa de revitalização de tapa buraco de dez mil vias, nenhuma rua do Distrito foi contemplada, nenhuma rua do distrito foi considerada dentro do programa de tapa buraco, não estou nem falando de revitalização. Como nós queremos nos defender dos ataques de outros regiões se nós mesmos não cuidamos daquilo que é nosso?. Uem faz mal pra nós somos nós mesmos, não é ninguém de fora. Então, se nós não cuidamos daquilo que é nosso, quem de fora vai cuidar?

JC- Sabemos que ano eleitoral é de muitas expectativas. As candidaturas postas à mesa têm peso em relação ao tratamento que o governo federal poderá dar ao PIM. Na sua avaliação, dentre as candidaturas, há alguma que possa ser favorável ou mais propícia à uma melhor relação com a ZFM?

Wilson Périco - Todo período de eleição, é um período de muita reticência na cabeça de todo mundo, exatamente por conta dessas incertezas, principalmente na área econômica. Eu vou me ater ao meu entendimento do momento, não vou fazer nenhuma especulação com os nomes que estão pleiteando o cargo nem de governador e nem de presidente da República, mas uma coisa que é de um anseio da população, da sociedade brasileira como um todo e da nossa é que nós possamos ter pessoas de bem na sociedade ingressando numa atividade política sem o receio de ter na testa a pecha de ser político e isso você faz escolhendo pessoas dignas por parte dessas pessoas, não pode se deixar contaminar também por aquele meio que alí está. Hoje o país passa por uma insegurança jurídica muito grande por conta dessas incertezas políticas, a dissonância e o absurdo que vivemos hoje em termos de conceitos morais e cívicos neste país. Todo mundo preocupado porque nós temos um general concorrendo na chapa a vice-presidência, mas ninguém está preocupado em ter um condenado preso pleiteando concorrer à Presidência. São valores antagônicos que deixam qualquer um estupefatos de pensar na possibilidade de uma pessoa que foi condenada, que tem todos os crimes comprovados, documentados, não tem mais dúvida se teve ou não teve crime, não estamos discutindo isso, agora querer abraçar que um condenado concorra a PresidÊncia da República, isso é um absurdo. Eu não estou falando de questões partidárias, eu não tenho vínculo partidário, mas estou falando do indivíduo, se o indivíduo está condenado ele não poder pleitear a nada que seja público, ele foi condenado por mal feito, dinheiro que era do público ele tratou como coisa própria isso foi comprovado. A gente tem aí o presidente que está envolvido em escândalos também, como um cara vai às 10h da noite conversar com um bandido na garagem do palácio e está aí na presidência?. Como é que um senador que foi condenado pode voltar a concorrer a eleição? Então, essas questões que deixam a população e os investidores reticentes ao momento que estamos passando.Eu espero de verdade é que nós possamos começar a construir um ambiente melhor em termos de dignidade, civilidade para que o que nos resta de vida, mas principalmente para as que irão vir depois da gente.

JC - O que é necessário, na sua avaliação, para tentar mudar mudar a realidade econômica do país e do Estado?

Wilson Périco - Existem um monte de mazelas sociais que estamos vivendo, a questão da segurança, saúde pública, isso são coisas pontuais que você resolve. Pra você mudar uma sociedade a educação é primordial, nós não podemos mais aceitar uma educação da forma pública do jeito que está que não preze pela comprovação do aprendizado. Hoje as escolas públicas são proibidas de reprovar porque precisam abraçar uma população por conta de uma bolsa que a família recebe. Nós precisamos resgatar o respeito ao educador, resgatar a comprovação do aprendizado porque essas pessoas desses últimos quinze anos pelo menos, estão ingressando em carreiras universitárias e vão sair para trabalhar em diversas áreas e não terão a maior condição de dar o serviço que a população precisa, então precisamos rever isso também.

JC - Como os repasses da indústria à UEA podem fortalecer e trazer mais resultados no desenvolvimento do Estado?

Wilson Périco - Nós temos a taxa da Suframa e a taxa de P&D que nós repassamos, isso nos últimos cinco anos que totalizam perto de R$ 7,5 bilhões. Quando falamos na UEA 95% do ICMS do Estado é arrecadado na capital ou seja, ele é extremamente dependente da atividade econômica, nós temos outros 61 municípios que geram riquezas, mas são municípios que têm atividades mapeadas minerais, piscicultura, fruticultura, turismo que precisamos desenvolver e você desenvolve isso com qualificação. A UEA é um catalisador, tem a capilaridade necessária para podermos promover essa mudança porque ela está presente fisicamente ou remotamente em todos os municípios do nosso Estado. No ano passado foram repassados para UEA R$ 370 milhões, repasse direto das indústrias para a instituição, existem outras duas rubricas, o FTI (Fundo Turismo e Interiorização) e o FMPE (Fundo da Pequena e Média Empresa), essas três que não entram no orçamento do Estado totalizaram ano passado R$ 1,3 bilhão. Nós temos recursos, hoje, da atividade oriunda da indústria que possibilitam ao Estado encontrar outros pilares de sustentação para o desenvolvimento econômico. Tirar o Estado da dependência que tem hoje da capital em termos de geração de riqueza e tirar da condição de refém que nós somos hoje, de Brasília. Não podemos diversificar atividades aqui pela falta de PPBs para atrair investimentos.

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