15/10/2018
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
Uma cena que já se tornou
comum em Manaus: um volume de
imigrantes venezuelanos que cresce na
cidade e uma boa tarde deles, nos
semáforos, pedindo emprego com
placas de papelão. São homens,
mulheres e crianças que ficam horas a
fio segurando os cartazes com os
pedidos de ajuda como este:
“Venezuelano. Preciso de trabalho ou de
uma ajuda de você, por favor. Tenho
filhos”.
Alguns vendem produtos que todo
manauense gosta, picolés, água e até
mesmo frutas são algumas das opções
dos venezuelanos que esperam
encontrar uma vida melhor na capital
amazonense.
O casal Jhonatan Diaz, 38, e Rosa
Urtato, 42, chegaram à cidade há cinco
meses. Com os cinco filhos e ela no final
da sexta gestação, eles ficam os dias em
um sinal localizado na avenida das
Torres, pedindo emprego para sustentar
a família.
“Ficamos aqui desde as 7h da manhã e
saímos às 16h. Já consegui alguns
‘bicos’ como pedreiro, mas nada
concreto. Deixamos nossa vida em
Caracas. Lá não tem emprego. Uma
cartela de ovos está custando 3.500
bolívares, e o salário da semana que
recebemos é de 1.200. Por isso
enfrentamos o medo, juntamos as crianças e viemos para o Brasil tentar
uma vida melhor”, contou Diaz.
Eles, que vendem frutas no sinal, pagam
aluguel e ainda precisam comprar
comida para o mês, contam que, ainda
assim, não se arrependem de ter de
pedir nos sinais para quem passa pelas
ruas emprego.
“Pagamos R$ 500 de aluguel em um
quarto no bairro Petrópolis, Zona Sul, e
queremos pagar todos os nossos custos
do nosso suor, não com esmolas. Muita
gente passa e nem olha o que está
escrito, achando que estamos pedindo
dinheiro”, lamentou.
Na Avenida André Araújo, Johnn
Esparragoza, 39, está há nove meses
pedindo emprego no meio-fio, com um
pedado de papelão. Além da placa, ele
tem em mãos a carteira de trabalho e currículos, que informam que na cidade
natal trabalhava como pedreiro.
“Viemos para Manaus depois de passar
28 dias em Boa Vista. Aqui estou com a
minha esposa e nossos filhos. Pretendo
trabalhar para que possamos nos firmar
aqui e viver melhor”, disse Esparragoza,
com otimismo.
Outro imigrante que largou tudo e veio
tentar a vida em Manaus foi Armando
José Apónte Simón, 40. O cozinheiro
vende água e usa um poste como apoio
da placa que informa suas habilidades.
“Tenho 18 anos de experiência na
cozinha, principalmente na italiana.
Espero conseguir juntar dinheiro para
conseguir trazer minha esposa e filhas.
Tenho certeza que aqui, elas vão poder
ter uma vida melhor”, concluiu.
A ex-funcionária pública Lucy Buroz,
29, comentou que ainda sente vergonha de pedir emprego nas ruas de Manaus.
Ela que está com os quatro filhos na
cidade mora com o irmão e está
tentando juntar dinheiro para buscar o
marido que ainda está no país vizinho.
“É a primeira vez que faço isso. Me sinto
envergonhada. Lá, eu tinha emprego,
uma boa casa e tudo foi acabando. Fui
obrigada a pegar meus filhos para fugir
da miséria. Infelizmente aqui, ainda não
consegui nada, mas não vou desistir”,
disse Lucy.
Poucos abrigos
Somente no primeiro semestre de 2018,
a quantidade de pedidos de refúgio feita
por venezuelanos no Amazonas
triplicou, quando comparada a todo o
ano de 2017. De acordo com dados da
Polícia Federal (PF), de janeiro a 26 de
junho deste ano foram 4.779 pedidos,
enquanto em 2017 foram 2.301.
A Secretaria Municipal da Mulher,
Assistência Social e Direitos Humanos
(Semmasdh) informou que o município
paga aluguel de duas casas que servem
como abrigo, localizadas no Centro,
Zona Sul, e no bairro Alfredo
Nascimento, Zona Norte. Ao todo 200
venezuelanos moram nos locais. Todos
são indígenas da etnia Warao.
Já o governo informou que o abrigo aos
venezuelanos é feito somente pela
prefeitura. Por outro lado, a Secretaria
de Estado de Assistência Social (Seas) apontou que tem destinado recursos ao
município para subsidiar o
acolhimento.
O Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF) e Defensoria Pública da União (DPU) cobraram uma reação das três esferas governamentais sobre a imigração.