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Coluna do CIEAM

Brasil: Sustentável, Insustentável

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07/06/2017 16:20

Por Adalberto Val (*)

dalval.inpa@gmail.com

O desenvolvimento sustentável para qualquer elo da cadeia social envolve um conjunto de atividades que deve ser continuamente buscado. Mais do que isso, precisa ser constantemente atualizado ao longo do tempo. Muitas ações são sustentáveis e fazem parte de um “ecossistema social”. Assim, Educação é sustentável e faz parte de um amplo conjunto de ações na área de saúde, transporte, trabalho, organização e exemplos sociais. Da mesma forma, a ciência e a tecnologia estão presentes no nosso dia-a-dia ainda que não nos demos conta. Se não tivéssemos cientistas fantásticos como Thomas Edison, que inventou, com base na informação disponível à época, a luz elétrica e a gravação de som e imagem, não teríamos luz e cinema. Se não tivéssemos o obstinado Louis Pasteur, biólogo francês, que descobriu os princípios da vacinação, pasteurização e da fermentação, talvez eu não estivesse escrevendo este texto, nem tomaríamos o leite e a cerveja produzidos hoje. Mulheres também revolucionaram nossas vidas por meio de suas descobertas e duas delas merecem destaque: Marie Curie que descreveu a radioatividade de alguns elementos químicos como o Polônio (nome dado em homenagem ao seu país natal) e Rádio (do latim “radialem”) e como podiam ser usados na cura do câncer, abrindo uma imensa avenida para os protocolos modernos para o tratamento dessa doença que continua a desafiar a ciência; e Johanna Döbereiner, pesquisadora brasileira, que revolucionou a produção de leguminosas no Brasil por meio da descrição de processos de melhora na fixação de nitrogênio. Ou seja, sem a contribuição dessas duas mulheres que devotaram suas vidas à ciência, talvez estivéssemos ainda muito longe dos modernos tratamentos contra o câncer e de aumentar a produção de alimentos.

Insustentável é a corrupção, ainda que sua duração no Brasil indique o contrário, já que vem nos corroendo as entranhas desde o império. É insustentável porque ocupa posição de destaque nos noticiários e mostra para crianças e adolescentes, aqueles homens e mulheres bem vestidos, andando em carros notáveis, usando joias de valor inestimável, comendo em restaurantes sofisticados, enfim posicionando-se de forma “invejável”. “Invejável” se fosse conquistada de forma honesta, mas não é. É como o mocinho ou galã empunhando seu cigarro nos cenários hollywoodianos. O pior de tudo neste contexto é que os recursos que sustentam a insustentável corrupção são subtraídos exatamente das ações que poderiam ajudar a construir um futuro sustentável. Sustentável é a honestidade, a hombridade, a probidade, a integridade. É dormir tranquilo. A construção de uma sociedade com estes predicativos depende de governança de estado séria e sem desvios, depende de exemplos, de espelho, depende da Educação e da capacidade de apropriação da informação que a Ciência e a Tecnologia produzem a cada dia. Depende de uma sociedade estruturada para os seus elementos mais fundamentais para a vida, como saúde, transporte, trabalho. Para um país rico com mais de 500 anos, como o Brasil, esses traços já deveriam estar consolidados!

Insustentável são homens e mulheres que não rechaçam os desvios e que compõem com eles, que recebem, nos subterrâneos do poder, corruptos e corruptas capazes de comprar tudo para se favorecerem. Diz o dito popular “Diga-me com quem andas e te direi quem és”, não é verdade? Que país é esse no qual o fazimento de leis que governam nossas vidas, nossa educação e a produção de informações robustas capazes de dar solidez à nossa sociedade são feitas na presença de homens e mulheres que estão envolvidos e envolvidas com tal insustentável corrupção?! É hora de repensar. É hora de rever o que queremos como nação. É hora de impor a sustentabilidade de ações sérias, de governança, para que, de fato, possamos ter um país a trilhar o desenvolvimento contínuo, sem sobressaltos e retrocessos. Não adianta importarmos educação, não adianta importarmos informação. A Ciência não é mais neutra; é, e deve ser, desenvolvida para a sociedade em que se insere. Portanto, sejamos sustentáveis

(*) Adalberto Luis Val é biólogo, com pós-doutorado na Universidade da Columbia Britânica, Canadá, estuda adaptações biológicas às mudanças ambientais, tanto aquelas de origem natural como aquelas causadas pelo homem. No INPA-MCTI desde 1981, tendo dirigido a Instituição de 2005 a 2014, envolveu-se com análises das necessidades da Amazônia relacionadas a educação, ciência , tecnologia e inovação.

A ecologia pede passagem à economia

Por Alfredo MR Lopes (*)

alfredo.lopes@uol.com.br

Há um generalizado equívoco quando relacionamos os 50 ANOS dos incentivos fiscais na Amazônia a uma participação discreta de 1.8% do PIB do Brasil no estado do Amazonas, o maior da federação. Passados meio século dessa modelagem de desenvolvimento regional, fundada em incentivos fiscais, não há precedentes na história da redução das desigualdades regionais, num amontoado de tantos acertos. Infelizmente, ainda não fomos capazes de demonstra-los numericamente, até hoje, tanto por parte dos investidores como da representação política da Amazônia Ocidental. Área de abrangência da SUFRAMA, órgão que administra essa modelagem de acertos, paradoxos e avanços da Zona Franca de Manaus, vivemos os ventos sinistros do mandonismo político e da gestão fincada no favor.

Devemos lembrar que, até o advento da ZFM, em 1967, já havia sido criada, em 1912, a Superintendência de Defesa da Borracha, preocupada em dar respostas aos estragos da concorrência asiática, onde os ingleses investiram em inovação tecnológica e plantaram intensivamente a seringueira. Este órgão, após a II Guerra Mundial, em lugar de inovar foi transformada em Instituto Internacional da Hileia Amazônica, em 1945. A ideia era fincar a posse internacional – ou seja, de Washington – da Amazônia. Getúlio Vargas percebeu e criou o INPA. Ele próprio imaginou a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953. Morreu um ano depois. Ele e seu sonho. E, antes da ZFM, em 1966, veio a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia - Sudam, em 1966, na carona da Sudene, um projeto denso e bem estruturado de Celso Furtado para o Nordeste, que sucumbiu ao clientelismo danoso.

Furtado, o mais respeitado de nossos economistas, defendia os incentivos fiscais como fator constitucional de redução das desigualdades regionais. Obviamente, não passava por sua cabeça que tais incentivos fossem se concentrar em 52,14% no Sudeste, a região mais rica do Brasil, onde o preconceito e a desinformação reclama dos 13% de toda a Amazônia Brasileira, e dos 17% do Nordeste do Brasil. Vale lembrar que a ZFM não tinha um centavo de investimento público. A União deixa de arrecadar com a renúncia fiscal. Mas também nada arrecadaria sem renúncia, pois não incentivaria atividade econômica numa região sem infraestrutura. Na linha de incentivos, cabe lembrar que, em 1942, no bojo dos acordos de Washington, foi criado o Banco de Crédito da Borracha, transformado em Banco de Crédito da Amazônia, em 1957, e em Banco da Amazônia S.A. (Basa), em 1966. Quem se beneficiou com esse fomento compensatório dos esforços de guerra com a reativação de um novo ciclo da borracha para atender imposições de Washington?

Restou a ZFM, não apenas com os 3 milhões de empregos por todo o Brasil, substituição de importações, com produtos de qualidade e preços adequados – não fora a compulsão tributária – e seu maior acervo: a manutenção/proteção florestal, de onde saem as águas que abastecem os reservatórios, e a energia que abastece 60% da demanda elétrica paulista. Os benefícios são incontáveis, nenhum deles precificado pela timidez do PIB, enquanto validação do fluxo e não do precioso estoque natural. Este é o dever de casa mais emergencial pra novas e inadiáveis negociações, a cobiçada integração nacional, em ciência, tecnologia, economia e ecologia integral... Já!

(*) Alfredo é consultor do CIEAM - Centro da Indústria do Estado do Amazonas, professor da Ufam, PUC-SP, Universidade de São Paulo e Metodista, filósofo e ensaísta, autor de 07 livros sobre a Amazônia.

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 07.06.2017

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