23/01/2018
Por Gina Moraes de Almeida
Ó Pátria Amada!, até quando verás tua gente tratada
como indigente nas conquistas de padrões dignos de
civilização? “Ganância veste terno e gravata/Onde a
esperança sucumbiu/Vejo a liberdade aprisionada/Teu
livro eu não sei ler, Brasil! Oh pátria amada, por onde
andarás?/ Seus filhos já não aguentam mais!/Você que
não soube cuidar/Você que negou o amor/Vem aprender
na Beija-Flor”. O grito da Escola de Samba Beija-Flor
traduz a batida da revolta e afere a temperatura elevada
de uma epidemia cívica.
Esse constrangimento ecoa pelos rincões indignados de
um país fragilizado e envergonhado de si mesmo, de
forma que padece de urgente renovação. Se o medo da
meada pecuniária pode levar-nos a entender quem
desviou e quanto foi desviado no jogo perverso do
ilícito, apenas a mudança de padrões morais da sociedade brasileira, refletida nos três Poderes da
República, pode orientar a conduta da transformação.
Sejam, portanto, fortalecidas as instituições que
respondem pelo e pelo respeito às Leis, bem como os
profissionais que aí atuam estejam fortes e irmanados,
vigilantes e em permanente interlocução com a
sociedade, na busca incessante da Justiça e dos direitos
que ela ampara para o pleno exercício da cidadania. Sem
messianismo nem arbitrariedade.
Abominamos a ideia de que será um indivíduo ou,
ainda, uma agremiação política que irá retirar o Brasil
do atoleiro. Aliás, foi esse partidarismo fundamentalista
que lá nos colocou, “ganância veste terno e gravata”, ao
desviar verbas da saúde e do bem-estar da população,
pagadora de impostos, além de recursos da pesquisa e
da educação e fabricar cidadãos de segunda classe, sem
as condições físicas necessárias para o trabalho e
convivência e sem qualificação técnica. Nossos votos
serão a chave da mudança, na medida em que
escolhermos, com responsabilidade, representantes
comprometidos e qualificados, acompanharmos o seu
desempenho e exigirmos o cumprimento de suas
promessas e o produto de sua representação no
interesse da população. Caso contrário, vamos
perpetuar o constrangimento de viver em um país
contagiado pela indignação coletiva
Refutamos, também, a distorção oportunista da
aplicação da Lei e a apropriação do estatuto legal para
oprimir desafetos ou para auferir facilidades.
Defendemos a interlocução institucional e o
acolhimento profissional de todos os atores envolvidos
no resguardo da legalidade a serviço da dignidade dos
cidadãos. Como advogados, temos plena convicção de
nosso lugar e de nossa relevância jurídica, a par de
disposição para aprimorar a interação institucional.
Só assim, poderemos e iremos sacudir a arbitrariedade e
o abuso do poder, em qualquer instância ou gradação
hierárquica. O que esperar de um país, cujas
Instituições viram as costas para a população? O que
esperar de uma advocacia – “Oh, Pátria Amada, por
onde andarás?” – com foco apenas em causa própria,
indiferente aos descaminhos impostos ao País?
“Teu livro eu não sei ler, Brasil!”, A esperança está na
intrepidez do Judiciário, que deve honrar as leis e pode
fazer do Estatuto legal o caminho mais curto, que nos
levará ao primado da cidadania.
O “Você que não soube cuidar” é o espelho que reflete a
todos nós, nossa omissão, pequenos ou grandes gestos
diários de uma ilicitude camuflada, na escolha de
representantes ineptos e de gestores desqualificados,
política e moralmente.
“Somos todos iguais nesta noite”, diz o poeta. E a noite escura precisa clarear como vontade coletiva, terapêutica e curativa para espantar em definitivo a epidemia da indignação do banditismo e do pessimismo, no amanhecer emergencial da mudança, para resgatar a esperança e esvaziar a indignação.